Lar da Esperança pede ajuda para repor carro de coleta

Único carro que faz transporte está quebrado há seis meses

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O limite que separa os quase 200 assistidos do preconceito é a rua. Nos 80 metros de um terreno doado, com plantas nativas, quadros colorem o cenário imaginado por Graça Cordeiro, fundadora do Lar da Esperança, na Avenida Capitão Vanderley, número 5000, no bairro Piçarreira, na zona Leste de Teresina. Na casa, pessoas que sofrem com a exclusão da sociedade, por causa do fato de serem portadoras do vírus HIV, vivem em uma comunidade onde todos são iguais e se respeitam. Soropositivos, que conquistaram na Associação muito mais que dignidade, ganharam uma casa, uma família, amigos e uma profissão.

Crédito:Raissa Morais

Neste mês de janeiro, completando 31 anos de existência, o Lar que colhe piauienses e maranhenses soropositivos, em situação de vulnerabilidade, ainda passa por inúmeras dificuldades. O único carro que faz transporte da instituição está quebrado há seis meses. O caminhão Kia Kombo, que também faz a coleta de doações e material reciclável, importante para sobrevivência do local, está com problemas no câmbio de marcha, motor de partida e pneus.

"Está difícil sem o caminhão. Eu queria levar para própria concessionária colocar uma peça     original, porque a que já coloquei não resolveu. O caminhão está parado desde julho. É com ele que faço a coleta do material (papelão, papel, garrafas plásticas, latas de alumínio) em clínicas, restaurantes e outros estabelecimentos. Recolhemos doações de roupas, calçados para fazer um bazar, tudo com ele", conta Graça Cordeiro. No Lar, um pequeno galpão faz toda a triagem do material descartado que se transforma em insumos para ser vendido a sucatas, como forma de renda extra para manter a casa. "Ontem já fiz uns fretes para poder pegar o material", lembra.

A casa ainda vive de doações, do trabalho de uma equipe dedicada de voluntários coordenada por Dona Graça, como é conhecida. Desde 1989, a contadora se dedica de corpo e coração para garantir a existência do abrigo. Na década de 1990, um problema novo assustava moradores de todas as cidades brasileiras. O contágio pelo vírus HIV causava pânico e preconceito nas pessoas. Os poucos tratamentos também não colaboraram. Os portadores não sobreviviam por muito tempo, devido às doenças oportunistas. Em Teresina, Graça Cordeiro ergueu a bandeira do amor e acolhimento contra o preconceito da Aids.

 Lar é mantido pela dedicação de voluntários

Nos anos 90, o escritório de Graça Cordeiro, localizado em um prédio no Centro da Capital, já não suportava a quantidade de atendidos. Um terreno doado pela Universidade Federal do Piauí, em 2002, transformou-se no Lar da Esperança graças à solidariedade e à dedicação de voluntários que moveram autoridades e artistas que doaram materiais para a construção.

"Um rapaz piauiense foi para São Paulo trabalhar em um hotel, só que ele foi demitido após ser diagnosticado com a doença. Voltando para cá, ele viu que na porta onde eu trabalhava tinha um cartaz falado de HIV e ele me pediu ajuda. Foi emocionante, porque foi a primeira vez que vi um soropositivo na vida. Não tínhamos muita informação se podíamos pegar na mão ou abraçar, mais abracei e servi o almoço, ele chorava que tremia - uma pausa-, depois ele voltou bem", recordou a fundadora como tudo começou, emocionada.

Ainda assim, a contadora abrigou o jovem rapaz e, a partir dali, sua acolhida se tornou um porto seguro para centenas de pessoas. O sucesso da casa correu o Estado, lembra a fundadora da casa. "No início, começamos atendendo os homossexuais, depois chegaram as prostitutas, depois as esposas que contraíram o vírus dos maridos, mas tivemos que abranger os filhos de pessoas que não eram portadores", relata.

Na casa, as pessoas recebem mais que carinho e amor. Ela ensina a viver em sociedade. Assistidos renegados pelas suas famílias, encontraram no Lar uma nova oportunidade para reconstruir suas vidas, são cozinheiros, ajudantes e até aposentados que têm uma vida como a de qualquer outro. Graça conta que, apesar dos anos doloridos, o Lar é um lugar que representa felicidade. Viúva e de uma fé inabalável, seu único desejo é viver bem mais 120 anos. "O meu coração está aberto 24h. Atendo a capacidade que chegar. Sou feliz por conta disso, pelo abraço que dei. Quero construir um Lar para idosos e vou conseguir", projetou.

Como ajudar  - O Lar da Esperança precisa de colaboração para cuidar de todos os moradores. As doações podem ser realizadas através da conta corrente Banco do Brasil, Agência 5605-7 Conta 305.061-0. Caixa Operação 3, Agência 1989, Conta 343-9.  O abrigo também recebe donativos de alimentos não perecíveis, até materiais de limpeza. "O feijão, o arroz, a farinha nunca deixaram de me dar, tem pessoas com meio pacote de flocos de milho que vão deixar e eu recebo porque é de coração", explica a coordenadora. Carnes, leite e gás também são itens necessários para garantir a alimentação dos acolhidos que podem ser entregues no local. Informações (86) 98841-5409/99822-3500.

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