O diagnóstico da infecção pelo HIV apresenta questões físicas, emocionais, sociais e outras até mais complexas que as demais doenças transmissíveis. Os avanços no tratamento transformaram drasticamente a vida de muitas pessoas que vivem com o vírus, mas a compreensão e a aceitação na sociedade não melhoraram tão drasticamente.
Quarenta anos após o surto, o estigma e a discriminação do HIV - alimentados em grande parte pela ignorância - persistem e continuam a ter um forte impacto sobre a vida de diversas pessoas.
Os soropositivos acolhidos pelo Lar da Esperança, situado na zona Leste de Teresina, enfrentaram, no início, o que muitos ainda encaram nos dias de hoje. Na instituição, essas pessoas levam outra vida.
Antes de morar no Lar da Esperança, Valdeci Palhano, 57 anos, tinha um emprego e vivia com a família no município de Bacabal, interior do Maranhão. A descoberta veio no ano de 1995. "Eu fui para um hospital em Teresina para tentar saber o que eu tinha e descobri a doença. Achava que já estava morto", disse.
Com o diagnóstico, veio a exclusão social. Ele perdeu o emprego de caixa em um supermercado e os bicos que fazia como cozinheiro. De todo o drama sofrido por ele, perder amigos em decorrência da doença foi o mais marcante. "Entrei em desespero. Meus amigos começaram a descobrir que também estavam doentes e começaram a morrer. Uma vez foram três sepultamentos em um único dia", disse.
Sem apoio em casa, Valdeci passou a enfrentar não apenas a doença, mas o medo, o preconceito e a desinformação.
Após receber o diagnóstico, foi acolhido pelo Lar da Esperança na mesma noite que chegou à porta da instituição. "Foi amor à primeira vista quando conheci Dona Graça. Não tenho palavras, ela é minha família, minha amiga nas horas tristes e alegres. Com ela, converso coisas que não teria coragem de contar para minha própria família. Ela é mãe, me apoia, a gente se acolhe todos os dias", relata Valdeci.
Laços que ficam para a vida toda
Após 15 anos morando no Lar da Esperança, Valdeci Palhano conseguiu uma casa, mas o laço da gratidão faz com que ele esteja sempre por perto.
Desde sua saída, nunca faltou um único dia no trabalho voluntário que presta na instituição. Ele colabora com diversas atividades e passa as manhãs na lavanderia do Lar da Esperança. Valdeci construiu, juntamente com a fundadora do local, Graça Cordeiro, uma relação de confiança e companheirismo. Para o voluntário, ainda é difícil fazer novos amigos.
O preconceito deixou marcas que ainda machucam. "Às vezes eu recebo um convite para aniversário, churrasco, mas ainda tenho medo do que as pessoas vão falar, dos olhares. Eu fico mais na minha, com minha família, Dona Graça", ressalta.
O Lar da Esperança fica na zona Leste de Teresina e atende atualmente mais de 140 pessoas com HIV. A intuição é mantida por meio de doações. Além disso, a maior parte de todo trabalho desenvolvido espaço é feito por moradores. A maior prova que amor se multiplica.
Para ajudar o Lar da Esperança a amparar vidas, é possível realizar entregas de doações. O casa fica localizada na Avenida Capitão Vanderley, 5000, Piçarreira I. Os telefones de contato são 86 98882-4506 e 86 99822 -3500.
APOIO
Esta matéria faz parte de uma iniciativa do Grupo Meio Norte de Comunicação (GMNC) em parceria com instituições sociais para apoiar a população em situação de vulnerabilidade socioeconômica, entre outros grupos que foram impactados pela pandemia da Covid-19.
A ação compartilha histórias com objetivo de transformar vidas e arrecadar recursos financeiros para compra de alimentos e demais materiais solicitados pelas entidades participantes.