João de Deus foi condenado, nesta quinta-feira (19), a 19 anos e quatro meses de prisão por crimes sexuais cometidos contra quatro mulheres durante atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Ele está detido há um ano e sempre negou os crimes.
Esta é a primeira sentença com relação aos abusos sexuais. Porém, também há uma condenação por posse ilegal de armas de fogo.
Ao todo, João Teixeira de Faria já foi denunciado 13 vezes pelo Ministério Público, sendo 11 por crimes sexuais. Nos processos constam abusos contra 57 mulheres. Outras 87 vítimas estão citadas como testemunhas, pois os crimes já prescreveram.
Os promotores de Justiça afirmam que este é o maior caso de abuso sexual registrado no país. “Tenho certeza que é um dos maiores casos do país, talvez do planeta, no que tange a abuso sexual”, disse o promotor Luciano Miranda, coordenador da força-tarefa do MP-GO que investiga os crimes.
As acusações contra João Teixeira de Faria, de 78 anos, começaram no dia 7 de dezembro de 2018. Mulheres relataram no programa Conversa com Bial terem sofrido abusos sexuais dentro da Casa Dom Inácio de Loyola, onde ele fazia os atendimentos, em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. Logo depois, o Ministério Público de Goiás montou uma força-tarefa para receber as denúncias.
Processos na Justiça
Desde quando as denúncias vieram à tona, o MP-GO já recebeu cerca de 320 denúncias de mulheres que se dizem vítimas de João de Deus. Destas, 194 formalizaram o processo junto ao órgão. Já foram apresentadas 13 denúncias, sendo:
-Nove apenas por crimes sexuais: destas, uma está na fase final e as demais aguardam a devolução de cartas precatórias;
-Uma por crimes sexuais e falsidade ideológica: aguardando sentença;
-Uma por crimes sexuais, corrupção de testemunha e coação: está aguardando a devolução de cartas precatórias;
-Uma por posse ilegal de armas de fogo e munição em Abadiânia: João de Deus foi condenado a quatro anos no regime semiaberto e teve a prisão revogada. A esposa dele, Ana Keyla Teixeira também era ré no processo, mas foi absolvida;
-Uma por apreensão de documentos, armas de fogo e munição, em Anápolis: não teve o andamento informado pelo Tribunal de Justiça.
Investigações continuam
A promotora Ariane Patrícia Gonçalves disse que as investigações ainda não terminaram. Mulheres ainda procuram o órgão para fazer denúncias sobre os crimes sexuais. Como o número de vítimas é muito grande, o Ministério Público definiu a estratégia de apresentar várias denúncias, com grupos pequenos de vítimas, para facilitar a tramitação na Justiça.
A integrante da força-tarefa disse que, caso fosse apresentada apenas uma denúncia contendo as mais de 100 vítimas, o processo seria muito mais lento e complicado.
Além disso, ainda existem apurações envolvendo outras pessoas ligadas ao réu. Uma delas é a suspeita de uma rede de proteção a João de Deus envolvendo inclusive delegados da Polícia Civil. Porém, como o caso ainda está em andamento, não é possível informar quais medidas já foram tomadas para não atrapalhar o processo.
“Existe investigação também com relação a outras pessoas que teriam participação nos crimes sexuais. Seriam pessoas tanto da Casa [Dom Inácio de Loyola] quanto de outros estados, porque existiam guias turísticos que conduziam mulheres para serem tratadas por João de Deus em Abadiânia”, disse a promotora.