O tiro que matou Lucas Azevedo Albino, de 18 anos, — assassinado por policiais militares do 41º BPM (Irajá) no dia 30 de dezembro do ano passado —, quebrou todos os ossos do crânio do jovem. A informação está no laudo de necrópsia do cadáver do adolescente, obtido pelo EXTRA. Segundo o documento, assinado pelo perito legista Paulo Cesar Alves da Silva Filho, além do disparo fatal, na testa, outro tiro atingiu Lucas, no ombro esquerdo. O jovem foi baleado num dos acessos ao Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio.
O tiro que entrou na testa do jovem foi disparado da direita para a esquerda, e saiu do corpo de Lucas na região da mandíbula esquerda. Já o disparo que atingiu o ombro do adolescente foi disparado de trás para frente e saiu pela clavícula. O laudo do Instituto Médico Legal faz parte do inquérito que investiga o crime.
A mãe de Lucas, Laura Ramos de Azevedo, afirma que o filho foi executado pelos policiais após ser colocado dentro de uma viatura, já baleado no ombro. Mesmo lutando contra um câncer terminal, a mulher investiga o caso por conta própria. Segundo ela, Lucas foi baleado na garupa de uma moto próximo a um posto de gasolina e colocado na viatura, ainda consciente. Quando deu entrada no Hospital estadual Carlos Chagas, cerca de meia hora depois de sair da favela, o jovem estava morto com um tiro no rosto, conforme o boletim de atendimento médico de Lucas.
Ontem, Laura prestou depoimento à Justiça sobre o caso. O relato antecipado perante um juiz foi um pedido do Ministério Público devido à doença de Laura, que poderia impossibilitar um futuro testemunho. Agora, a investigação será encaminhada à Delegacia de Homicídios (DH), que fará uma reprodução simulada do crime.
— Como a pessoa sai da favela falando e com um tiro nas costas e chega ao hospital já morta com um tiro na cabeça? Meu filho foi reconhecido pelo pé, porque o rosto ficou desfigurado — relatou a mãe, durante o depoimento. Uma foto que faz parte da investigação mostra Lucas de pé, sendo colocado na viatura pelos agentes. A imagem foi feita no dia do crime.
Laura Ramos de Azevedo investiga a morte do filho
Os quatro PMs investigados — um soldado, dois cabos e um sargento — estavam presentes na audiência. No início do mês, a Justiça determinou o afastamento dos quatro do 41º BPM. Segundo o juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal, a medida é necessária por conta da "necessidade de garantia de ordem pública e a necessária conveniência da instrução criminal".
A morte de Lucas foi registrada na Central de Garantias, na Cidade da Polícia, como auto de resistência, ou seja, morte em confronto com a polícia. Na delegacia, os quatro PMs acusados do crime disseram que foram atacados a tiros por Lucas e pelo mototaxista. Os agentes alegam ainda que encontraram, com Lucas, um radiotransmissor, drogas e uma granada, e que o socorreram para o hospital.
A mãe do adolescente nega que ele estivesse armado. Uma testemunha já corroborou, em depoimento ao Ministério Público, a versão de Laura. “Os únicos disparos que foram feitos foram dos PMs”, disse a testemunha, em depoimento, aos promotores do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do MP estadual.
O morador do Complexo da Pedreira, que esperava um ônibus para ir ao trabalho no ponto em frente ao local onde o crime aconteceu, também afirma que Lucas estava consciente quando entrou na viatura: "Lucas continuou gritando pela mãe e dizendo que não era bandido, que os policiais colocaram Lucas na caçamba da viatura".