Um jovem viciado em crack, morador de Samambaia, no Distrito Federal, impôs uma sentença a si mesmo: acorrentou os pés com cadeados para evitar sair de casa e comprar a droga.
?Eu prefiro ficar acorrentado porque hoje em dia as coisas não estão brincadeira. É perigoso e tantas pessoas morrem por causa desse vício que eu prefiro ficar passando mal com vontade de usar, mas não ficar arriscando perder a minha vida?, diz o rapaz, que não quer ser identificado.
Na casa onde ele mora estão as marcas da destruição causada pelo impulso do vício. Um vidro na entrada da residência está quebrado, a maçaneta também. No lugar há outras portas arrombadas. Segundo a mãe do rapaz, isso aconteceu quando ele tenta fugir de casa para usar a droga.
?Estou destruindo minha família. Sou o caçula, sempre fui um menino carinhoso. Depois que conheci essa vida, essa droga, minha vida praticamente foi para o fundo do fundo do poço?, comenta o homem.
O rapaz de 25 anos começou usar o crack com 15. Ele está disposto a se internar, mas a família não consegue uma clínica.
?Tem muito tempo que a gente está lutando para conseguir uma clínica?, relata a mãe do rapaz. "Na verdade, o poder público não tem. A gente procura, eles mandam a gente para o Caps [Centros de Atenção Psicossocial] e o Caps não funciona. Eles fazem uma visita e vão embora, marcam um retorno para daqui a três, quatro meses
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que o DF não possui política de internação compulsória de pacientes usuários de droga. Segundo a pasta, o modelo a ser adotado no Distrito Federal terá cinco Casas Abrigos, a serem inauguradas nos próximos dias, onde os usuários poderão ficar em tratamento por tempo indeterminado, por livre vontade.
Atualmente o tratamento de usuários de drogas ocorre com apoio dos Caps - o DF tem 14 deles, sendo sete especializados em álcool e drogas, seis para atendimento a adultos e um para crianças e adolescentes. Nos centros não há internações. Além dos Caps, o Distrito Federal conta com um hospital psiquiátrico e um Centro de Orientação Psicossocial (COMPP), diz a Secretaria de Saúde.
O homem reconhece a destruição causada pela droga. ?O sofrimento que eu estou passando eu não desejo pra ser humano nenhum na Terra.?
?O desejo de uma mãe é ver o sucesso do filho, que ele tenha uma vida digna. E ele está vivendo um momento muito triste, porque ele não tem controle sobre ele mesmo?, fala a mãe do jovem.