Superação é uma palavra constante na vida de Jadison Costa da Costa, de 19 anos, que enfrenta muitas dificuldades físicas. Portador de paralisia cerebral e usuário de cadeira de rodas, o jovem realizou mais um sonho: foi selecionado para cursar licenciatura em história na Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Estudante da Escola Estadual José Ribamar Pestana, do município de Santana, a 17 quilômetros de Macapá, ele está prestes a concluir o ensino médio. Para ser aprovado, ele fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ao lado de um auxiliar.
Concorrendo através da cota destinada a estudantes deficientes físicos da rede pública de ensino, com renda familiar inferior à um salário-mínimo e meio, o nome dele era um dos que saíram na lista dos aprovados na quinta-feira (24).
O dia foi de inteiro de comemoração. Jadison estava em sala de aula, com amigos, professores e familiares, quando soube da classificação.
"Aqui está todo mundo feliz. Eu sempre acreditei que conseguiria. Vamos comemorar e manter o ritmo de estudos, que não pode parar", disse o estudante.
A mãe de Jadison, Neuza Maria, de 45 anos, é solteira e sobrevive com o benefício assistencial do INSS dos filhos. O segundo filho dela, de 18 anos, também é portador de paralisia cerebral. Ela relatou ao G1 que a aprovação é mais uma das superações que o filho teve ao longo da vida. Ela reforçou que isso também é resultado de um trabalho em conjunto.
"Eu sempre lutei para que meus filhos alcançassem seus objetivos, mesmo que tivesse que fazer sacrifícios. Eles, por outro lado, reconhecem meu esforço e também dão o melhor, mas claro isso tudo, não seria possível sem o auxílio dos professores, que, assim como eu, não desacreditaram", disse Neuza.
Irmão de Jadison, Adipe Costa também fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mirando o curso de bacharelado em direito. Ele não foi aprovado, mas, mesmo assim, ele detalha que se espelha no irmão mais velho para continuar em busca do ensino superior: "Agora a inspiração está em casa", disse.
Apesar da recente conquista, o jovem afirma que ingressar na Unifap não será o último objetivo na vida. Ele agora quer seguir o sonho de assumir o posto de presidente da República. "Meu objetivo é primeiro me formar e depois, por que não ser presidente da república?", disse.
Rotina na escola
Com cinco anos atuando com estudantes que precisam de atendimento especial, a professora Laudiclea Carvalho acompanha os irmãos Jadison e Adipe nesse período. Para ela, a inserção de uma aluno dela em uma universidade federal é um legado.
"A estrutura física da escola não é totalmente adequada, principalmente para um aluno cadeirante, mas o que falta em infraestrutura, tentamos recompensar no ensino e no auxílio aos estudantes. Quando ouvi o nome do Jadison na rádio, foi como se um filho meu tivesse passado no vestibular. Essa conquista é gigantesca, principalmente para os estudantes que convivem com ele", explicou a professora.
Para fazer as provas, o estudante resolve as questões com auxílio dos professores, escrevendo no computador. Já para fazer o Enem, ele teve outro desafio: ele tinha que ditar as respostas que achava corretas para um auxiliador, que marcou as questões e também que escreveu a redação.
Jadison detalha que, apesar das dificuldades físicas, não deixa de viver a juventude. Ele concilia os estudos com o que gosta de fazer nas horas vagas: assistir jogos de futebol do Goiás, time do qual é torcedor fanático, e jogar videogame.
Carlos Alberto Jr/G1
"Ah, eu sou viciado em celular, futebol e videogame. Na escola todo mundo brinca comigo e eu com eles. Claro que me esforço bastante estudando, mas também gosto de aproveitar. Afinal, quem não gosta de dar uma relaxada?!", brincou.
Sobre a nova vida, a família já sabe que serão mais quatro anos de sacrifícios, mas o momento é de comemorar. Eles até cogitam passar a morar na capital, se for necessário.
Judison deixa o recado: "nunca deixe ninguém subestimar seus sonhos", finalizou.