Os danos, invasões e a exploração ilegal de TIs (Terras Indígenas) pelo Brasil triplicaram no período de apenas três anos e alcançaram 305 ocorrências em 2021, atingindo pelo menos 226 territórios de 22 estados. Com informações do UOL.
Em muitos casos, os relatos apontam a presença de homens armados e até do PCC (Primeiro Comando da Capital) nesses locais, ameaçando os povos originários.
O dado vem do relatório "Violência contra os Povos Indígenas do Brasil - Dados de 2021", divulgado nesta tarde pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), entidade da Igreja Católica ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O número de casos vem crescendo ao longo dos últimos anos, já que órgãos de proteção têm abandonado a fiscalização dessas áreas. Em 2018, ano antes da posse de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, foram contabilizados 109 casos.
- 2021 – 305
- 2020 – 263
- 2019 – 256
- 2018 – 109
- 2017 – 96
- 2016 – 59
Ao todo, em 2021, os registros somaram 1.294 casos de violência contra o patrimônio dos povos indígenas, divididos assim:
- Omissão e morosidade na regularização de terras - 871 casos
- Invasões, exploração ilegal de recursos e danos - 305 casos
- Conflitos relativos a direitos territoriais - 118 casos
Além de mais casos e terras afetadas pela ação ilegal de garimpeiros, madeireiros, caçadores, pescadores e grileiros, entre outros, "os invasores intensificaram sua presença e a truculência de suas ações nos territórios indígenas", aponta o Cimi.
Segundo o relatório, foram 355 casos contra pessoas indígenas em 2021 —maior número registrado desde 2013, quando o método de contagem dos casos foi alterado. Ou seja, em média houve quase um caso por dia catalogado no país no ano passado.
Casos de violência foram divididos da seguinte forma:
- Assassinatos – 176
- Ameaças várias – 39
- Abuso de poder – 33
- Lesões corporais dolosas – 21
- Racismo e discriminação étnico cultural – 21
- Homicídio culposo – 20
- Ameaça de morte – 19
- Violência sexual – 14
- Tentativa de assassinato – 12
Casos chamam atenção
Entre tantos casos, dois chamaram a atenção do Cimi e são destacados no relatório.
No Pará, garimpeiros armados que atuam ilegalmente na TI Munduruku atacaram a sede de uma associação de mulheres indígenas, tentaram impedir o deslocamento de líderes do povo para manifestações em Brasília, fizeram ameaças de morte e chegaram a queimar a casa de uma liderança, em represália a seu posicionamento contra a mineração no território.
Na TI Yanomami, onde é estimada a presença de mais de 20 mil garimpeiros, os invasores passaram a realizar ataques armados sistemáticos contra as comunidades indígenas, espalhando um clima de terror e provocando mortes, inclusive de criança, diz o relatório.
Um dos ataques citados ocorreu no dia 10 de maio contra a comunidade Palimiú. "Lideranças relataram que o ataque foi feito por invasores ligados à facção criminosa originada em São Paulo e conhecida como PCC, que domina o tráfico de drogas em Roraima e estaria operando em garimpos ilegais de ouro dentro da TI."
Os indígenas foram surpreendidos pelo ataque e relataram que foi diferente de tudo o que já haviam vivenciado na região; segundo os relatos, os garimpeiros estavam de preto e alguns estariam, inclusive, vestindo roupas com a inscrição 'polícia'."
Principais motivos das invasão:
- Extração ilegal de madeira e outros recursos naturais – 58
- Caça e/ou pesca ilegais – 57
- Invasão possessória de fazendeiros e/ou posseiros – 52
- Desmatamento – 48
- Garimpo ou mineração – 44
- Grilagem e/ou loteamento de terras – 33
- Agropecuária – 27
- Incêndios ou queimadas - 24