O presidente interino do Egito, Adli Mansour, prestou juramento ao cargo nesta quinta-feira (4) diante da assembleia geral do Supremo Tribunal Constitucional, a instância judicial que ele mesmo presidia até hoje.
Ao tomar posse um dia após o golpe militar que derrubou Mohamed Morsi na véspera, Mansour disse que a Irmandade Muçulmana é "parte do povo" e era bem vinda para ajudar a "construir a nação", segundo o jornal estatal "Al-Arham".
Mansour disse que planejava realizar novas eleições, mas não especificou uma data.
Ele afirmou que o Egito havia "corrigido o caminho de sua revolução gloriosa" por meio de grandes protestos populares pedindo a renúncia de Mursi, finalmente selando o seu destino.
Golpe militar
Na véspera, o chefe do exército do Egito, general Abdel Fatah al-Sisi, anunciou a deposição do presidente do país, o islamita Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana, por ele "não ter cumprido as expectativas" do povo.
O general, em cadeia nacional de TV, declarou que a Constituição está suspensa temporariamente, durante um período de transição, no qual o governo será exercido por um grupo de tecnocratas.
Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, no ano passado, não admitiu o golpe e pediu a seus partidários e aos líderes militares que "resistissem pacificamente", evitando derramamento de sangue.
No início da madrugada de quinta, fontes afirmaram que Morsi estava sendo mantido sob custódia domiciliar, e relatavam que havia 300 mandatos de prisão contra militantes da Irmandade Muçulmana, grupo político ao qual ele pertence.
Pelo menos 14 pessoas morreram em confrontos em três cidades, segundo a agência estatal Mena, e há mais relatos de violência pelo país.
Transição
Na manhã desta quinta-feira, uma multidão ainda festejava no Cairo a derrubada do governo do presidente Mohammed Morsi, segundo a BBC.
Neste período da interinidade, a Constituição vai ser revista por um painel, com vistas à convocação de novas eleições parlamentares e presidenciais.
O general disse que o caminho a ser seguido foi acordado com um amplo grupo político, e que será criado um plano de reconciliação nacional, com a presença de grupos jovens, que estava nas ruas desde domingo pedindo a renúncia de Morsi.
Ele afirmou que as forças de segurança iriam garantir a paz nas ruas das principais cidades do país, que estavam tomadas por manifestantes oposicionistas e também por partidários do islamita Morsi.
Festa nas ruas
A notícia da queda de Morsi foi recebida com fogos de artifício na emblemática Praça Tahrir, no Cairo, palco da revolta popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak em 2011, no contexto da chamada Primavera Árabe, e também dos protestos recentes que pressionaram o islamita.
"O povo e o Exército estão do mesmo lado", gritaram os manifestantes na praça, em meio ao barulho das buzinas e cânticos, segundo uma testemunha ouvida pela Reuters.
Também houve carreatas em várias ruas do Cairo.
Falando depois do general, um porta-voz do Exército afirmou à agência Reuters que ainda não havia um cronograma para a transição política.
O anúncio da queda de Morsi foi saudado pelo oposicionista Mohamed ElBaradei, que disse que a revolução de 2011 foi "relançada" no país e pediu eleições presidenciais rápidas.
O Nour, segundo principal grupo islamita do país após a Irmandade Muçulmana, afirmou que concorda com o mapa de transição, para que o país "evite conflitos".