A TV estatal líbia confirmou há pouco que a capital Trípoli registra fortes explosões seguidas de disparos da defesa antiaérea do regime perto da casa do ditador Muammar Gaddafi.
De acordo com a Associated Press os bombardeios seriam de autoria das forças internacionais dos aliados, que já estão no terceiro dia de suas operações para implementar a resolução 1973 aprovada na sexta-feira passada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os informes da TV estatal da Líbia sugerindo que a casa de Gaddafi estaria sob ataque ainda não foram confirmados pelos aliados, e chegam apenas horas depois de o premiê do Reino Unido ter dito ao Parlamento britânico que a resolução da ONU não autoriza tornar o ditador um alvo direto.
"A resolução é limitada em seu alcance e não proporciona explicitamente a autoridade legal para uma ação que provoque a saída do poder de Gaddafi pela via militar", declarou Cameron durante um pronunciamento ao Parlamento britânico.
O primeiro-ministro, que afirmou que as forças aliadas já conseguiram implementar plenamente a zona de exclusão aérea sobre o país do norte da África, ressaltou que a "Líbia tem que se desfazer de Gaddafi" e acrescentou que os líbios são quem "têm que escolher seu próprio futuro".
No entanto, considerou que a comunidade internacional é "responsável em última instância" pela aplicação da resolução aprovada pelas Nações Unidas e que a intervenção evitou um "massacre sangrento" em Benghazi.
REBELDES AVANÇAM
Fortalecidos pelos ataques aéreos da coalizão internacional contra as forças governistas, os rebeldes da oposição lançaram nesta segunda-feira uma ofensiva para retomar a cidade estratégica de Ajdabiya, no leste do país.
Os rebeldes chegaram a sofrer ataques de tanques do ditador Muammar Gaddafi em seu reduto, Benghazi, mas viram uma reviravolta na guerra com a entrada dos aviões internacionais. Forças dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Bélgica, Espanha e Qatar bombardearam as forças de Gaddafi nos arredores de Benghazi, destruíram boa parte de seu sistema de defesa antiaérea no oeste do país e atacaram até mesmo um complexo militar próximo à casa do ditador, em Trípoli.
A mudança no equilíbrio de forças levou os rebeldes a rechaçar mais uma vez qualquer diálogo com o regime líbio para encerrar pacificamente os confrontos. O vice-presidente e porta-voz do opositor Conselho Nacional Transitório (CNT) líbio, Abdelhafid Ghoga, rejeitou ainda a convocação de uma "marcha verde" por Gaddafi, no que o ditador vislumbra como um movimento nacional do povo líbio contra a intervenção militar.
Os rebeldes reconquistaram nesta segunda-feira o controle sobre Zuwaytinah, um terminal petrolífero a cerca de 30 km de Ajdabiya e que havia sido recuperada pelas tropas de Gaddafi na semana passada, segundo o jornal "Washington Post".
Novos confrontos foram registrados também, afirma o jornal, em Misrata, o reduto rebelde mais ao oeste do país. Os rebeldes denunciaram nesta segunda-feira que as forças leais a Gaddafi trazem civis de cidades vizinhas para usá-los como escudos humanos na ofensiva.
A informação não podia ser confirmada de forma independente e não houve comentário imediato de autoridades líbias.
Um morador de Misrata disse à agência de notícias Reuters que as forças de Gaddafi também usavam roupas civis no centro da cidade, uma possível estratégia para escapar dos ataques ocidentais.
Ele disse que ainda que Misrata, localizada a 200 quilômetros a leste de Trípoli, já estava cercada por tropas pró-Gaddafi e que o abastecimento de água foi interrompido.
Em Benghazi, a segunda maior cidade líbia, um porta-voz da oposição disse que os rebeldes ainda planejam marchar para Trípoli, estratégia que havia sido evitada pela ofensiva de Gaddafi.
OFENSIVA INTERNACIONAL
Enquanto os rebeldes tentam reconquistar as principais cidades do país, aviões da coalizão internacional bombardeiam Trípoli. O céu da capital foi tomado por aviões da coalizão procedentes de bases na Itália e pelos disparos da defesas antiaérea líbia durante toda a madrugada e parte da manhã.
A Líbia é alvo há três dias da operação Aurora da Odisseia, uma ampla ofensiva militar das forças ocidentais contra as forças de Gaddafi. A operação visa a impedir os ataques do ditador aos civis e rebeldes líbios, que pedem sua renúncia, e impor a zona de restrição aérea --medidas aprovadas na quinta-feira (17) pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Neste domingo, um míssil da coalizão atingiu um edifício do complexo residencial de Gaddafi. O prédio, situado a cerca de 50 metros da tenda onde Gaddafi recebe geralmente seus convidados importantes, foi totalmente destruído.
A coalizão alega que o prédio era de uso militar. Já o governo líbio disse se tratar de um prédio administrativo.
"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Gaddafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", declarou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim, aos jornalistas estrangeiros, denunciando as "contradições do discurso ocidental".
"Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior", criticou.
A troca de fogo ocorreu mesmo com a declaração de um novo cessar-fogo pelo regime líbio, na tarde deste domingo. A trégua foi recebida com desconfiança pela comunidade internacional e o conselheiro do presidente americano para a Segurança Nacional, Tom Donilon, afirmou que o anúncio era "uma mentira" e que havia sido "imediatamente violado" pelas forças de Gaddafi.
GADDAFI NÃO É ALVO
O ataque levantou suspeitas de que a coalizão internacional planeja matar Gaddafi, objetivo que não está incluso na resolução da ONU. Autoridades americanas correram para desmentir a informação, embora o ministro da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, tenha insinuado o contrário.
"Posso garantir que (Gaddafi) não figura na lista dos nossos alvos. Não visamos sua residência", declarou o vice-almirante Bill Gortney, do Pentágono.
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, assinalou que seria "insensato" matar Gaddafi na operação militar da coalizão para deter o regime em Trípoli.