A população do Sudão do Sul celebra na madrugada de sábado (noite de sexta, 8, no Brasil) a sua independência em relação ao norte do Sudão, resultado de um referendo feito no começo do ano, conforme previa o acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.
O novo país tem Juba como capital, e foi reconhecido oficialmente na sexta-feira pelo governo do Sudão, com sede em Cartum, horas antes da secessão formal.
Milhares de pessoas dançavam nas ruas, agitavam bandeiras, e fogos de artifício foram lançados para comemorar a data. As autoridades dizem que a nova nação surgiu à 0h do dia 9 de julho (18h em Brasília), e que uma cerimônia formal de independência seria realizada horas depois.
"À meia-noite, sinos repicarão em todo o novo país, e tambores soarão, para marcar a transição histórica do sul do Sudão para a República do Sudão do Sul", disse nota emitida previamente pelo governo regional.
A nova república nasce rica em petróleo, mas subdesenvolvida. O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila para aquele que foi, até sexta-feira, o maior país da África - que agora é a Argélia.
Mas o reconhecimento não elimina os temores a respeito do futuro. Os líderes do sul e do norte ainda precisam chegar a um acordo com relação a várias questões, a começar pela exata demarcação da fronteira e pela partilha dos dividendos petrolíferos.
Festa em Juba
Em Juba, pouco antes da meia-noite pessoas agrupadas nas esquinas de terra já agitavam bandeiras e dançavam à luz dos faróis dos carros, gritando "MLPS, o-yei, Sudão do Sul, o-yei, liberdade, o-yei."
MLPS é a sigla do Movimento de Libertação do Povo do Sudão, responsável pela rebelião que combateu o norte até 2005, e hoje é o maior partido do Parlamento do Sudão do Sul.
Em Cartum, o presidente do "velho" Sudão, Omar Hassan al Bashir, disse a jornalistas na sexta-feira que irá a Juba no sábado para as celebrações da independência.
"Gostaria de salientar (...) nossa disposição em trabalhar com nossos irmãos do sul e ajudá-los a instituir seu Estado para que, se Deus quiser, esse Estado seja estável e se desenvolva. A cooperação entre nós será excelente, particularmente quando se trata de demarcar e preservar a fronteira para que haja um movimento de cidadãos e bens por essa fronteira."
Analistas temem a retomada da guerra civil - agora como guerra internacional - caso as disputas não sejam resolvidas.
Ao toque da meia-noite, a República do Sudão perdeu cerca de três quartos das suas reservas petrolíferas, que estão concentradas no sul - o qual, no entanto, depende dos oleodutos do norte para escoar essa produção. Além do mais, Cartum continua enfrentando insurgências nas regiões de Darfur e Kordofan do Sul.
Na noite de sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse a jornalistas em Juba que está confiante numa rápida adesão do Sudão do Sul à entidade global. Passando por Cartum horas antes, ele pediu ao governo do norte que autorize as forças de paz da ONU a ultrapassarem o prazo estipulado para sua monitoria da situação em Kordofan do Sul, maior Estado petrolífero remanescente no norte, e em outros pontos de conflito.