A francesa Gisèle Pelicot, sobrevivente de um estupro coletivo que levou à condenação de 51 homens, incluindo seu marido, foi eleita uma das Mulheres do Ano de 2025 pela revista Time.
Ela está na lista divulgada em 20 de fevereiro ao lado de 12 outras homenageadas, como a atriz Nicole Kidman e a ginasta Jordan Chiles. Segundo a Time, as escolhidas são “líderes extraordinárias que estão trabalhando por um mundo melhor e mais igualitário”.
Em 2023, a ministra da Igualdade Racial do governo Lula, Anielle Franco, também foi reconhecida pela revista como uma das Mulheres do Ano.
Mulheres do Ano de 2025 segundo a Time
- Nicole Kidman – Atriz e produtora
- A'ja Wilson – Jogadora de basquete e MVP da WNBA
- Jordan Chiles – Ginasta olímpica
- Laufey – Cantora de jazz
- Anna Sawai – Atriz
- Amanda Zurawski – Ativista pelos direitos reprodutivos
- Claire Babineaux-Fontenot – CEO da Feeding America
- Fatou Baldeh – Ativista gambiana pelos direitos das mulheres
- Raquel Willis – Ativista e autora
- Olivia Munn – Atriz e defensora da conscientização sobre o câncer de mama
- Laura Modi – Cofundadora e CEO da Bobbie
- Purnima Devi Barman – Conservacionista
- Gisèle Pelicot – Voz para sobreviventes de violência sexual
O caso de Gisèle Pelicot
Por uma década, Dominique Pelicot dopou a esposa e permitiu que desconhecidos tivessem relações sexuais com ela sem consentimento. Durante esse período, Gisèle não sabia que estava sendo violentada.
Ela só descobriu os abusos em 2020, quando Dominique foi preso por importunação sexual contra outras mulheres. A polícia apreendeu um computador dele e encontrou milhares de fotos e vídeos mostrando Gisèle sendo estuprada por diversos homens enquanto estava inconsciente.
As investigações revelaram que mais de 70 homens participaram dos crimes, e 50 deles foram levados a julgamento e condenados junto com Dominique.
REJEITOU ANONIMATO
O caso veio à tona em setembro de 2024, quando o julgamento começou. Na ocasião, Gisèle decidiu abrir mão do anonimato e tornar o processo público. Ela afirmou que queria evitar que outras mulheres passassem pelo mesmo.
Para muitos franceses, ela se tornou um símbolo de resistência. Milhares de pessoas saíram às ruas para apoiá-la, e seu rosto foi estampado em murais pelo país. Uma faixa pendurada nas antigas muralhas de Avignon dizia: Merci, Gisèle.
Um impacto duradouro?
Apesar da comoção, a questão permanece: a luta de Gisèle trará mudanças concretas?
Na França, apenas 20% das sobreviventes de estupro denunciam os crimes, e, entre os casos reportados, 94% são arquivados sem julgamento. Diferente dos EUA e de outros países europeus, a França ainda não classifica estupro como sexo sem consentimento, exigindo que haja violência, ameaça ou coerção. Essa definição mais restrita dificulta a condenação de agressores.
O caso de Gisèle reacendeu o debate sobre essa legislação, e advogados acreditam que ele pode impulsionar mudanças. “Pela primeira vez, o país está refletindo seriamente sobre essa questão”, afirmou Antoine Camus, advogado da sobrevivente.
Mas especialistas alertam que mudanças nas leis são apenas o primeiro passo. Para a advogada Anne Bouillon, que acompanha casos de violência sexual, Gisèle não quer ser vista como heroína, mas sim como um exemplo de que o silêncio pode ser quebrado.
E, de fato, seu impacto já é visível. Sobreviventes de abuso mencionam Gisèle como inspiração para falar sobre suas próprias experiências.
No tribunal, em outubro de 2024, ela resumiu sua motivação: “Quero que todas as mulheres vítimas de estupro saibam que também podem se levantar e falar. Isso não é bravura, é determinação para mudar a sociedade.”