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Saiba por que o papa Francisco nunca voltou à Argentina durante seus 12 anos de papado

Mesmo sendo o primeiro papa latino-americano, Francisco jamais retornou ao seu país natal após ser eleito. Entenda os motivos por trás dessa ausência.

O papa Francisco fez 40 viagens e visitou mais de 60 países. | Foto: EPA/BBC
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O papa Francisco, nascido Jorge Bergoglio, deixou a Argentina em 2013 para participar do conclave que o elegeria como o primeiro papa latino-americano da história. Desde então, mesmo após mais de 60 viagens internacionais e visitas a diversos países vizinhos, ele nunca voltou à Argentina.

A ausência prolongada, ao longo dos 12 anos de pontificado, gerou questionamentos e até críticas por parte de muitos argentinos. Afinal, por que o papa Francisco nunca visitou seu país de origem?

Maradona, o papa e Messi, três dos argentinos mais famosos da história — Foto: Getty Images/BBC

DESPEDIDA SEM RETORNO

Quando deixou Buenos Aires, Bergoglio tinha 76 anos e, segundo pessoas próximas, não esperava ser eleito — muito menos ficar tanto tempo no cargo. De acordo com o padre Guillermo Marcó, ele já se preparava para a aposentadoria em um lar religioso no bairro de Flores.

Contudo, ao ser escolhido como sucessor de Bento XVI, iniciou um papado marcado por reformas, apelos à paz e simplicidade. Ainda assim, sua relação com a Argentina se tornou cada vez mais distante com o passar dos anos.

CONEXÃO EMOCIONAL, MAS DISTÂNCIA FÍSICA

Apesar da ausência física, pessoas próximas garantem que o pontífice manteve laços profundos com sua terra natal. Segundo Gustavo Vera, ativista e amigo de longa data, Francisco enviava cartas escritas à mão e comentava frequentemente sobre futebol, tango e cultura argentina.

“Francisco manteve sua conexão com a Argentina o tempo todo. Seu coração sempre esteve lá”, diz Vera em reportagem da BBC.

QUAL MOTIVO DO DISTANCIAMENTO?

Entre 2013 e 2025, Francisco visitou Brasil, Bolívia, Paraguai e Chile, todos países que fazem fronteira com a Argentina. Também esteve em México, Cuba, Equador e Peru. A ausência em solo argentino, portanto, se destaca — especialmente para alguém tão ligado à América Latina. Segundo a reportagem da BBC, existem alguns motivos para isso. 

1. Polarização política

O papa temia que sua visita fosse usada para fins políticos, principalmente em um país profundamente dividido entre peronistas e antiperonistas (ou kirchneristas e antikirchneristas). Segundo ele mesmo, só iria à Argentina se pudesse ser um agente de união.

2. Críticas e queda de popularidade

Uma pesquisa do Pew Research Center revelou que a imagem positiva de Francisco entre os argentinos caiu de 91% em 2013 para 64% em 2024. A decepção veio tanto de setores conservadores, que o achavam progressista demais, quanto de reformistas, que esperavam mudanças mais profundas.

3. Relação controversa com figuras políticas

Francisco foi acusado por críticos de ter proximidade com Cristina Kirchner e outros políticos condenados por corrupção. Mesmo negando envolvimento partidário, isso alimentou o rótulo de "Francisco K", em alusão ao kirchnerismo.

SILÊNCIO E FRUSTRAÇÃO DOS ARGENTINOS

Ao longo dos anos, o papa deu respostas vagas sobre uma possível visita à Argentina. Em 2024, afirmou: "Gostaria de ir. É a minha casa, mas ainda não está decidido."

Para muitos argentinos, isso soou como uma rejeição. Em tempos de crise — com inflação altíssima e aumento da pobreza — sua ausência foi sentida de forma mais dolorosa.

“Ele nunca quis voltar ao seu país, é como se Jesus nunca tivesse pregado em Jerusalém”, escreveu um usuário no X (antigo Twitter).

UM PAPA UNIVERSAL

Segundo Vera, Francisco se tornou um “papa do mundo”. Ele manteve forte conexão com os mais pobres e rejeitou o luxo, características que o tornaram admirado em várias partes do planeta. No entanto, sua ausência foi difícil de compreender para muitos conterrâneos.

“Nós, argentinos, muitas vezes não deixamos Bergoglio ser Francisco”, disse o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Ignacio García Cuerva.

Vera acredita que Francisco poderia estar planejando visitar a Argentina como um gesto final de seu papado, mas nunca revelou esse plano explicitamente. Mesmo sem pisar novamente em sua terra natal, Francisco deixou uma marca profunda — tanto em seu país quanto no mundo.

"Os argentinos acham que ele era só argentino. Mas, na verdade, ele já pertencia ao mundo.", declarou Vera.

Com informações da BBC via g1

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