O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou antecipadamente a reunião do G7 no Canadá nesta semana para tratar do agravamento do conflito entre Israel e Irã. A volta imediata a Washington foi seguida de uma reunião emergencial com o Conselho de Segurança Nacional e uma série de declarações que, para analistas, indicam a possibilidade real de um envolvimento direto dos EUA no confronto, o que pode transformar o conflito em uma guerra de escala global.
Israel e Irã trocam ataques desde sexta-feira (13), após o exército israelense anunciar uma ofensiva contra alvos nucleares iranianos. Teerã retaliou com mísseis lançados sobre Tel Aviv, Haifa e Jerusalém. O número de mortos já ultrapassa 500, segundo o grupo Human Rights Activists, incluindo civis e militares dos dois lados.
Sinais da entrada americana
Apesar de inicialmente afirmar que os EUA não participaram dos ataques israelenses, Donald Trump aumentou o tom nos últimos dias. Em rede social, afirmou que "já tinha o controle do céu do Irã", sugerindo uma aliança operacional com Israel. Também mencionou saber a localização do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, dizendo que não o eliminaria "por enquanto", mas advertindo que "a paciência está se esgotando".
Trump ainda exigiu a rendição incondicional do Irã e ordenou o envio de novos caças e reforços militares ao Oriente Médio. A Reuters noticiou que aeronaves americanas partiram da Europa rumo à região, e autoridades indicam que navios com capacidade de combate e desminagem já estão em deslocamento estratégico.
Análise dos especialistas
Para o cientista político Maurício Santoro, a movimentação dos EUA não é apenas simbólica.
"Pela escala dos deslocamentos e tipo de armamento, há sinais concretos de uma preparação para a guerra", afirma.
Segundo ele, o uso de bombas antibunker e forças navais aponta para um ataque direto a centros nucleares subterrâneos do Irã.
Já a doutora em Direito Internacional Priscila Caneparo ressalta que somente os EUA têm poder militar suficiente para neutralizar o programa nuclear iraniano.
"Israel não possui a artilharia necessária para isso. Uma intervenção americana pode causar centenas de mortes de civis e abalar ainda mais a região."
O professor Gunther Rudzit, da ESPM, destaca que o impacto eleitoral da decisão para Trump é incerto.
"Mesmo contrariando promessas de campanha, ele pode capitalizar politicamente com a narrativa de força. O eleitorado dele costuma ser sensível a essas mensagens."
Impactos no Irã e no mundo
Os especialistas avaliam que uma entrada dos EUA no conflito enfraqueceria ainda mais o regime iraniano, que já enfrenta pressão popular interna por reformas. Santoro afirma que a guerra pode expor fragilidades e alimentar movimentos opositores ao aiatolá Khamenei.
Caneparo, porém, alerta para a possibilidade de radicalização: "Grupos como Hezbollah e Houthis se fortaleceriam simbolicamente. São ideias, não exércitos, e isso poderia intensificar os riscos para Israel e seus aliados."
No plano internacional, o maior temor é econômico. Um ataque ao Irã poderia levar o país a bloquear o Estreito de Ormuz, rota estratégica por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial. Isso dispararia os preços e geraria um impacto direto na economia global.
"Seria devastador para a navegação comercial e elevaria o preço do barril de petróleo a níveis alarmantes", aponta Santoro.
Uma guerra inevitável?
Apesar dos alertas e do risco de ampliação do conflito, especialistas ainda não veem consenso sobre uma ofensiva americana de fato. A China, aliada do Irã, adota postura cautelosa e provavelmente não se envolveria. Já a Rússia também observa com atenção, mas ainda sem reação concreta.
Para Rudzit, se houver ofensiva, ela deve ser "curta, aérea e limitada".
"Não acredito que chegue ao ponto de provocar grandes manifestações nos EUA, mas a tensão será sentida no mundo todo", conclui.
Fonte: G1