Procurador da Líbia renuncia em protesto à repressão

O procurador-geral disse que atuava de acordo com uma série de princípios que jurou respeitar.

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O procurador-geral da Líbia, Abdelrahman Al Abar, renunciou ao seu cargo em protesto pelo "massacre" cometido contra o povo líbio, de acordo com um comunicado divulgado nesta sexta-feira pela rede emirati Al Arabiya.

"Há um derramamento de sangue nunca vivido pelo povo líbio em toda sua história", afirmou Abar em sua declaração, lida por ele mesmo em um vídeo transmitido pela emissora.

O procurador-geral disse que atuava de acordo com uma série de princípios que jurou respeitar quando assumiu o posto e prometeu "estar sempre ao lado do direito e a justiça com toda lealdade à pátria e o povo".

Abar acrescentou que as atuações do regime de Muammar Kadafi para reprimir os protestos populares que explodiram no dia 17 de fevereiro representam "impor a lógica de força e violência em vez de recorrer ao diálogo democrático".

Segundo cálculos de diferentes organizações internacionais, nos protestos contra Kadafi morreram milhares de pessoas.

"O que acontece na Líbia está contra os princípios dos direitos e justiça nos quais acho, portanto anunciou minha renúncia ao cargo de procurador-geral da Líbia e anuncio minha inclinação à vontade do povo, representada na revolução dos jovens", expressou Abar.

Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi

Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.

Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.

Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.

Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.

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