Seis semanas antes de alertas de terrorismo terem provocado o fechamento neste ano de embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha no Iêmen e em outras localidades, ramos da rede al-Qaeda receberam US$ 22 milhões em dinheiro em troca de reféns suiços, austríacos e finlandeses.
O dinheiro foi enviado por supostos intermediários de um país do golfo Pérsico.
?Basicamente o dinheiro é recebido e dividido em diversas categorias de vários departamentos?, segundo o especialista em terrorismo Aimen Deen, da consultoria de segurança Five Dimensions.
?Há o departamento de armas. Há os campos de treinamento que precisam de comida e eletricidade. Eles precisam de dinheiro para armas de treinamento, eles precisam de substâncias químicas para serem usadas em explosivos, ele precisam pagar passagens aéreas para seus membros viajarem, além do aluguel de apartamentos no exterior e a construção de campos dentro e fora do Iêmen?, disse.
Negócio lucrativo
Autoridades britânicas estimam que mais de US$ 60 milhões foram pagos em resgates para terroristas nos últimos cinco anos. Eles afirmaram que os sequestros estão em alta na Síria, no Iêmen, na Nigéria e no noroeste da África.
Segundo fontes do departamento responsável por dar assistência a britânicos no exterior, o número de grupos de sequestradores está crescendo assim como os valores dos resgates. Na região do Saara, o valor médio cobrado por um refém era de US$ 4 milhões. Hoje o preço chaga a US$ 5 milhões.
Elas se referem aos eventos ocorridos no Mali para da explicar a tendência.
Os combates deste ano se seguiram à quase dominação total do país pelo grupo extremista Maghreb Islâmico, um movimento ligado à rede al-Qaeda que lucrou com sequestros de reféns espanhóis, suiços e italianos.
Quando tropas francesas invadiram cavernas abandonadas por guerreiros jihadistas no norte do Mali, encontraram uma carta escrita por um comandante regional da al-Qaeda, Abdulmalik Droukdal, para seu equivalente no Iêmen. No documento ele dizia que ?a maioria dos custos de batalha foram cobertos com pilhagens de reféns?.
Apontando o dedo
Governos da Europa nunca admitem pagar resgates. O dinheiro normalmente é enviado por intermediários.
Eu então perguntei a Aimen Deen: onde estão as provas??
?Eu conheci um piloto de um pequeno avião Cessna que disse ter recebido do governo espanhol mais de 12 milhões de euros em malas pretas?, disse Deen.
?Ele recebeu ordens para ir a um oásis específico no Mali, levando coordenadas para soltar as malas sobre o oásis. Isso me foi confirmado por um diplomata holandês que disse que seus colegas disseram para ele exatamente a mesma coisa?.
Desde os anos de 1970, o governo britânico tem adotado uma política de não fazer concessões substantivas aos sequestradores, dizendo que isso só estimula a tomada de mais reféns.
Autoridades britânicas dizem que não estão querendo culpar países específicos, mas se sentem frustradas. Melhor que isso, querem mostrar o que acontece quando terroristas recebem grandes quantidades de dinheiro em resgates.
Mas Alexandres Hitchens, um analista de estudos de guerra do Kings College de Londres não hesitou tanto em apontar quais são os países que pagam resgates.
?No passado o governo alemão foi criticado por ser o primeiro a fazer isso em meados dos anos 2000?, disse Hitchens.
?Mas recentemente, têm sido os governos das França, da Espanha e da Itália. (Em outubro) quatro reféns franceses foram libertados no Niger ? reféns do Maghreb Islâmico ? que, acredita-se, foram soltos após o pagamento de US$ 20 milhões.?
Ficando ricos
O governo francês insiste que dinheiro público não foi usado para pagar as libertações, mas Hitchens afirma que a empresa responsável pelos reféns teria providenciado o dinheiro com a aprovação tácita do governo da França.
Governos do Ocidente sabem como é prejudicial para sua imagem quando algum de seus cidadãos é exibido em um vídeo na internet com uma arma apontada para a cabeça ? e poucos têm estômago para aguentar isso.
Em junho os governos do G8 decidiram não pagar resgates, mas na prática não é isso que acontece, segundo consultores de segurança e diplomatas
Rachel Chandler e seu marido Paul foram capturados nas Seychelles quatro anos atrás por combatentes somali.
Os sequestradores eram piratas, não terroristas. O irmão de Chandler , Stephen Collett, teve que negociar o pagemento de um resgate substancial pela libertação do casal.
Ele afirmou que ofertas iniciais de ajuda da chancelaria britânica e da Polícia Metropolitana se tornaram inúteis quando ficou claro que a única forma de tirar os Chandlers da Somália era pagando o resgate.
?Estou extremamente descontente por pagar o sequestro?, disse Collet. ?Mas se temos uma política que não dá alternativas, e a chancelaria não te dá uma alternativa, eles parecem pensar que se ficarmos parados e não fizermos nada os reféns podem ser liberados?.
Diplomatas britânicos tentaram negociar a libertação por meio de velhos líderes tribais, mas no fim Stephen Collet teve que pagar.
Como o dinheiro foi para criminosos comuns, não terroristas, isso não foi ilegal.
Mas o alerta da chancelaria é gritante. Ele diz que grupos terroristas estão ficando ricos com resgates de reféns ocidentais. Por isso eles continuarão sequestrando e fazendo atrocidades, financiadas com dinheiro europeu.