Um surto mortal de cólera, ligado à água potável contaminada, infectou milhares de pessoas na região central do Paquistão. O país sofre com uma crise hídrica agravada pela onda de calor brutal no Sul da Ásia. Com informações da CNN Brasil.
As temperaturas em partes de Paquistão e da Índia atingiram níveis recorde nas últimas semanas, pondo as vidas de milhões em risco, num sinal claro dos efeitos da crise climática no subcontinente asiático.
Os casos de cólera foram identificados pela primeira vez em Pir Koh, uma remota cidade montanhosa na província de Balochistan, no dia 17 de abril. Desde então, mais de duas mil pessoas foram infectadas e seis morreram, segundo o médico Ahmed Baloch, do departamento de saúde de Balochistan.
Os moradores de Pir Koh dizem que não têm acesso a água potável. A falta de chuva deste ano fez com que as lagoas da região secassem. A única fonte de água é uma tubulação que “enferrujou e contaminou o abastecimento de água”, como contou o morador Hassan Bugti. “As pessoas são forçadas a beber água suja”, disse.
O primeiro-ministro paquistanês Shehbaz Sharif ordenou “medidas de emergência” para conter o surto de cólera em Pir Koh. Os militares foram chamados para ajudar que os carros-pipa com água potável chegue à população e criar instalações médicas para tratar os doentes.
A cólera é uma doença diarreica aguda que mata milhares de pessoas em todo o mundo todos os anos. É facilmente transmitida ao se consumir alimentos ou água contaminados com a bactéria fecal Vibrio cholerae.
Os cientistas alertaram sobre os impactos graves das alterações climáticas na saúde humana, com o aumento das temperaturas ajudando a propagação de agentes patogênicos perigosos, como o da cólera.
O surto chegou no momento em que o Paquistão enfrenta uma grave crise de água e uma onda de calor que chegou mais cedo — que, segundo o Departamento Meteorológico do Paquistão, tem sido persistente em toda a nação desde o início do mês.
Jacobabad, uma das cidades mais quentes do mundo, na província central de Sindh, atingiu 51ºC no domingo (15) e 50ºC no dia anterior. As temperaturas médias elevadas na cidade este mês ficaram ao redor 45ºC.
É pouco provável que o calor diminua em breve. Embora tempestades de poeira, ventos fortes e chuvas esparsas trouxeram alívio para partes do país durante os últimos dias, espera-se que as temperaturas voltem a subir a partir de quarta-feira (18), de acordo com o Departamento Meteorológico do Paquistão.
A ministra das Alterações Climáticas do Paquistão, Sherry Rehman disse na segunda-feira (16) que o país estava entre os com maior escassez de água do mundo e um dos dez mais vulneráveis ao stress climático.
As principais represas do país estão em no “volume morto agora, e as fontes de água são escassas, bem como contestadas”, afirmou Rehman à CNN, acrescentando que “essa é uma crise existencial abrangente e deve ser levada a sério”. No verão de 2015, uma onda de calor matou mais de mil pessoas na maior cidade do Paquistão, Karachi.
Índia sofre sob o calor
A onda de calor também foi sentida pelo vizinho do Paquistão, a Índia, onde as temperaturas na região da capital Délhi ultrapassaram 49ºC no domingo.
Nos últimos meses, a Índia experimentou uma onda de calor severa com temperaturas máximas médias alcançando o mais elevado índice em 122 anos em março (no país) e em abril (no noroeste do país).
O calor sufocante quebrou a marca de 49ºC para a primeira vez este ano em Délhi, com temperaturas que alcançaram 49.2ºC na estação climática de Délhi de Muneshpur e 49.1ºC na estação de Najafgarh no domingo, segundo o Departamento Meteorológico Indiano (IMD). Nova Délhi sofreu por 14 dias em maio acima com calor acima de 40ºC.
Gurgaon, a sudoeste de Nova Délhi, registou a temperatura mais elevada desde 10 de maio de 1966, com 48.1ºC. O IMD prevê algum alívio para Délhi, com céu nublado e claro para os próximos dois dias. No entanto, prevê que altas temperaturas regressem em algumas partes da região no final da semana.
Em alguns estados, o calor forçou as escolas a fechar, estragou colheitas e pôs a pressão em fontes de energia. Autoridades pediram para as pessoas ficarem em casa e se manterem hidratadas. No sábado, a Índia proibiu as exportações de trigo, dias depois de dizer que estava esperando atingir uma safra recorde este ano, pois a onda de calor afetou a produção e os preços internos bateram recorde de alta.
O país vive frequentes ondas de calor durante os meses de verão de maio e junho, mas as temperaturas deste ano começaram a subir antes, em março e abril.
A Índia e o Paquistão estão entre os países que podem ser os mais afetados pela crise climática, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC). Os especialistas dizem que as alterações climáticas causam ondas de calor mais frequentes e mais longas, afetando mais de um bilhão de pessoas nos dois países.
Chandni Singh, autora principal do IPCC e investigadora sênior no Instituto Indiano para os assentamentos humanos, afirmou que a onda de calor “está testando os limites da sobrevivência humana”.
“A onda de calor é definitivamente sem precedentes”, declarou Singh no início deste mês. “Nós vimos uma mudança em sua intensidade, hora de chegada e duração. É isso que os especialistas em clima previram e terá impactos em cascata na saúde”.
Com informações de Rhea Mogul da CNN e Robert Shackelford