A página do presidente americano Barack Obama no Facebook registrou um grande aumento no número de pessoas que o "curtem", em resposta a uma campanha lançada pelo político nas mídias sociais.
A equipe de Obama comprou propagandas no espaço "histórias patrocinadas", o que faz com que sua página seja promovida no Facebook de diversos usuários - mesmo aqueles que não desejam necessariamente ver esse tipo de mensagem.
Em apenas um dia, a página do presidente americano, que concorre à reeleição no próximo mês, foi "curtida" por mais de um milhão de pessoas. Antes disso, a média diária era de 30 mil.
Mas para alguns analistas, esse tipo de estratégia pode frustrar e até mesmo afastar os eleitores.
Protestos
Tanto Obama quanto seu rival nas eleições, o republicano Mitt Romney, estão intensificando suas campanhas nas mídias sociais.
Os dois estão presentes em diversas plataformas - como o serviço de músicas Spotify, de compartilhamento de imagens Pinterest e de publicação de fotos Instagram. Romney costuma publicar em sua conta no Instagram imagens de sua casa e de sua família.
Mas alguns internautas já começaram a protestar contra as mensagens e propagandas que recebem de Obama via Facebook.
"Por que Barack Obama está no meu "feed de notícias", escreve no Facebook uma jovem internauta do Estado de Illinois.
"Estou ficando cansado de todos esses anúncios do Obama na minha página no Facebook", reclama outro usuário.
Um internauta, em uma mensagem para Obama na conta do presidente americano no Twitter, exige: "Pare de se promover no meu Facebook e no meu Twitter. Eu nunca o "curti" ou o "segui"."
Para a socióloga Sandra Gonzalez-Bailon, do Oxford Internet Institute (OII), a campanha política nas mídias sociais está passando por um período de transição, e algumas pessoas vão precisar de tempo para se adaptar a nova realidade.
"Antes, as pessoas discutiam política em espaços físicos, agora a esfera pública foi repaginada", diz ela.
Videogames
Nas eleições de 2008, a campanha de Obama foi elogiada por inovar nas redes sociais, conseguindo atrair eleitores mais novos - muitos deles que votavam pela primeira vez.
Desta vez, a sua campanha tentou inovar novamente, de forma ainda mais agressiva. Uma das táticas é fazer compras específicas no Facebook ou no Twitter. Por exemplo, as plataformas podem exibir propagandas pagas dos candidatos toda vez que alguém faz uma busca pela palavra "debate" nas redes.
O próprio Obama tem ido às redes para fazer campanha. Ele costuma responder a perguntas de internautas no site Reddit. A tática divide opiniões: alguns dos usuários adoraram a oportunidade de trocar ideias com o presidente; já os críticos dizem que tudo não passa de um golpe de publicidade.
Outra nova fronteira explorada por Obama são anúncios em video games. O principal jogo eletrônico de futebol americano dos Estados Unidos - o EA"s Madden NFL 13 - tem propagandas do site da campanha de Obama. Até mesmo o jogo clássico Tetris, também da EA, possui anúncios do presidente.
A campanha de Romney também está investindo em jogos de videogame.
As duas campanhas apostaram que a estratégia de "inundar" o mundo digital com suas mensagens seria um sucesso. No entanto, uma pesquisa da Universidade da Pennsylvania mostra que isso pode não ser verdade.
Dos 1.503 internautas americanos entrevistados pelos pesquisadores, 86% disseram que não querem receber mensagens políticas feitas "sob medida" para eles, e 70% afirmaram que ver anúncios políticos de candidatos que eles já apoiam diminui as chances de votarem neles.
"Nós temos um "cabo de guerra" de atitudes - a rejeição ampla e enfática de propaganda política feita "sob medida" puxando de um lado, e do outro o uso cada vez maior de anúncios políticos deste tipo, sem que se divulgue como e quando as campanhas estão usando informações dos indivíduos", diz Joseph Turow, que conduziu o estudo.
Para Gonzalez-Bailon, os políticos - e qualquer um que usa redes sociais para fazer propagandas - precisam saber que existe um limite, que não pode ser cruzado. Este limite é a privacidade das pessoas, que podem se sentir "invadidas" pela propaganda.
A socióloga lembra de um incidente nas eleições italianas de 2004, quando a campanha do então premiê Silvio Berlusconi enviou mensagens de texto para centenas de telefones celulares de eleitores, lembrando a data do pleito. O processo causou revolta entre alguns italianos.
"Receber uma mensagem de texto no seu telefone celular é uma forma ainda mais séria de transgressão da esfera privada do que ver um anúncio no seu Facebook", diz ela.