O arquiteto gáucho Rogério Menin fazia uma viagem de turismo pela Ásia. Depois de passar por Dubai, nos Emirados Árabes, e por cidades da China, território chinês, rumou para Tóquio, onde pretendia ficar quatro dias. Menin chegou à capital japonesa às vésperas do terremoto. No dia 11, seu primeiro dia em Tóquio, ele e um guia saíram para iniciar um tour quando a cidade começou a tremer. Leia abaixo o relto de Menin, que conta o caos calmo dos japoneses em meio a um dos maiores desastres naturais da história recente.
Saímos do hotel às 11h, passamos por um centro comercial que ficava no caminho, almoçamos e fomos primeiro a um parque fechado com um jardim fantástico, rodeado por vários prédios com escritórios comerciais, todos com mais de 30 andares. No parque, havia turistas do mundo todo, mas não estava muito cheio, dava para caminhar tranquilo.
Já estava no final do passeio, por volta das 15h30, quando senti uma sensação de balanço, pensei ate que fosse uma vertigem, mas o balanço aumentou em seguida e as pessoas começaram a se atirar pelo chão, na grama, nos jardins e quando olhei para cima, os prédios ao redor do parque estavam balançando, me atirei ao chão e ao meu lado estava um casal de Singapura com duas crianças pequenas, cambaleando pelo caminho, eles não estavam entendendo o que estava acontecendo, falei que era um terremoto e do outro lado, um casal japonês confirmou...
Durou uns 5 minutos o tremor. As árvores balançavam, os prédios balançavam, foi uma sensação terrível, que jamais vou esquecer... Por incrível que pareça, não houve pânico. Todos que estavam no parque ficaram surpresos e desorientados, como eu também fiquei.
Logo que o tremor passou, o parque lotou de pessoas, pois todo o pessoal que trabalhava nos prédios vizinhos correu para o parque. O céu de Tóquio se encheu de helicópteros e aviões pequenos, provavelmente da Guarda Nacional. As pessoas, todas ligadas nos seus IPads ou Iphones, tentando buscar informação, mas naquele momento não se obteve muita informação.
Localizei o meu guia e fomos para dentro do carro que estava no estacionamento do parque, mas logo, que entramos, a terra começou a tremer novamente e saímos correndo de dentro do carro, de volta para o parque. Este segundo tremor durou uns dois minutos, e aí o parque já estava lotado de pessoas. Ali, naquele parque, ainda era o local mais seguro - se é que existe local seguro numa hora destas.
Aguardamos mais ou menos uma hora e meia, para tentarmos sair, pois o tremor havia passado, mas foi impossível, pois todas as linhas de metro foram paralisadas, o trânsito parou, algumas ruas foram trancadas, não haviam carros nas rua, e a sugestão do guia foi voltar para o hotel a pé. Todos os trabalhadores e pessoas que estavam nas ruas começaram a ir embora para suas casas a pé. Mas Tóquio é muito grande, as distâncias são enormes e não havia outra saída, pois todos os meios de transporte foram paralisados. Tive que caminhar mais ou menos uns 15km até conseguir chegar no hotel.
As ruas estavam lotadas de pessoas. Você tinha que cuidar para não bater nas pessoas, pois era muita gente caminhando, mas muita gente mesmo. O que me surpreendeu foi que não houve pânico. Os japoneses todos muito quietos, caminhando em silêncio, com pressa, demonstrando pânico apenas no olhar.
Enquanto eu estava indo para o hotel - já sabia que era longe de onde eu estava -, fui tentando ligar para o Brasil e pedir para a minha agência de viagem me tirar de lá o quanto antes. Na décima tentativa consegui falar com o Brasil, e a notícia do terremoto ainda nem havia tomado dimensões internacionais. Fiquei no aguardo de uma resposta.
Passadas seis horas caminhando, cheguei no hotel, e os saguões estavam lotados de pessoas que não conseguiram ir para suas casas. Havia mais de mil pessoas, todos calados, sentados pelos cantos e pelo chão. O hotel montou uma estrutura de apoio e solidariedade para todas as pessoas. Como a temperatura externa estava muito frio, o hotel montou mesas com chá e um pequeno lanche para as pessoas. Os oito elevadores foram paralisados e era permitido subir apenas pelas escadas.
Meu apartamento ficava no 12º andar. Quando cheguei, os quadros das paredes tortos, o que havia em cima das mesas estava no chão, foi assustador. Arrumei rapidamente minha bagagem, deixei no apartamento e desci. Foi quando recebi a noticia de que no dia seguinte, às 22h, eu já poderia voar para Dubai.
Resolvi passar a noite no saguão, pois a terra tremeu várias vezes e o pânico era grande. Eu imaginei que se eu estivesse no saguão seria mais fácil correr para a rua se a situação piorasse.
O dia amanheceu. Todas as pessoas ainda estavam no saguão do hotel, pois as linhas de metrô e os transportes ainda se mantinham paralisados e o grande problema seria ir para o aeroporto. Um amigo ligou para a Embaixada do Brasil pedindo uma ajuda, mas a pessoa que atendeu disse que não poderia fazer nada e orientou para que ficássemos no hotel.
Alguns motoristas começaram a se arriscar, e conseguimos um táxi que nos levou até uma estação de trem, pois era o único transporte possível para chegar no aeroporto. Saímos do hotel as 10h, levamos uma hora até a estação de trem e mais de sete horas para chegar até o aeroporto - caminho que no dia anterior havíamos feito em menos de uma hora.
Quando chegamos no aeroporto, as pessoas também estavam alojadas pelos cantos: famílias inteiras, com crianças pequenas, dormindo pelo chão, pois vários vôos haviam sido cancelados. Neste momento já estávamos informados de toda a situação: onde havia sido o epicentro do terremoto, a escala, enfim, durante a noite todas os canais de televisão estavam fazendo a cobertura, mas também não entendíamos o que eles falavam, pois era tudo em japonês.
Às 22h30 eu já estava voando para Dubai. Falei com alguns passageiros que estavam no voo e também comentaram sobre a experiência. Foi assustador, jamais na minha vida vou esquecer: passar pelo terceiro terremoto maior do mundo! Lamento muito o que aconteceu por lá, os japoneses são pessoas muito serenas, tranqüilas e educadas. Falam pouco, devem pensar muito, mas o espirito de solidariedade entre eles foi muito grande.