O julgamento do ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, acusado pelo massacre de Srebrenica em 1995, foi adiado por tempo indeterminado", depois que os juízes decidiram suspender a audiência da primeira testemunha de defesa, prevista para 29 de maio.
"A audiência foi adiada sine die", declarou o juiz Alphons Orie durante o segundo dia do julgamento de Mladic em Haia, na Holanda.
"A câmara decidiu suspender o início da apresentação dos meios de provas", disse.
O juiz, que garantiu que o tribunal divulgará o mais rápido possível a data de retomada do julgamento, mencionou "irregularidades" na transmissão à defesa de documentos em posse do gabinete do promotor e afirmou que que deve permitir à defesa uma preparação para o julgamento.
A defesa de Mladic, de 70 anos, pediu na segunda-feira aos juízes o adiamento em seis meses do julgamento por não estar preparada para a abertura.
A acusação respondeu com um documento no qual afirmava não ser contrária a um adiamento da apresentação dos elementos de prova.
Provocação
Na quarta-feira, primeiro dia do julgamento Mladic, apelidado de "açougueiro dos Bálcãs", provocou os sobreviventes do massacre, passando a mão pelo pescoço como quem corta uma garganta.
Mladic, de 70 anos, entrou no plenário do tribunal de Haia de maneira arrogante, batendo palmas e fazendo sinal de positivo.
Ele pode ser condenado à prisão perpétua se for considerado o principal responsável pela morte de 8 mil homens e meninos muçulmanos desarmados no enclave de Srebrenica durante a Guerra da Bósnia, naquele que é considerado o pior massacre na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Na galeria lotada, a mãe de uma vítima sussurrou várias vezes a palavra "urubu", enquanto os promotores iniciavam a leitura das acusações.
Mais tarde, Mladic encarou uma muçulmana da plateia e passou a mão sobre a garganta, num gesto que levou o juiz Alphons Orie a interromper a sessão e adverti-lo contra "interações inapropriadas".
Mladic, usando terno escuro e gravata, tomava notas enquanto escutava o promotor Dermot Groome dizer que o réu e outros servo-bósnios dividiram o território da antiga Iugoslávia conforme critérios étnicos, implementando um plano comum para exterminar os não-sérvios.
?A promotoria apresentará evidências mostrando além de qualquer dúvida razoável a mão do sr. Mladic em cada um desses crimes", disse ele.
Mais de 20 mães de vítimas do massacre se reuniram em frente ao tribunal. Algumas levavam cartazes, como o que dizia: "Mladic, o maior assassino de gente inocente e crianças".
Kada Hotic, que perdeu filho, marido e dois irmãos no massacre, disse temer que Mladic não viva o suficiente para receber o veredicto, a exemplo do que aconteceu com o ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que morreu durante seu julgamento.
Mladic é o último protagonista das guerras balcânicas dos anos 1990 a ser julgado no Tribunal Penal Internacional para a Ex-Iugoslávia, com sede em Haia.
O ex-general, que foi preso em maio de 2011 após passar 16 anos foragido, qualifica as acusações de "monstruosas", e diz estar doente demais para resistir ao julgamento. A corte considerou que ele se declarou inocente.
A promotoria conta com 200 horas para o julgamento.
O início do julgamento acontece 17 anos depois de o tribunal ter publicado a primeira acusação contra o ex-general.