Integrantes do governo interino egípcio informaram neste sábado que o ganhador do Prêmio Nobel da Paz Mohamed el-Baradei foi nomeado para o cargo de primeiro-ministro do país. Ele é o principal representante das forças políticas liberais, que faziam oposição ao presidente deposto Mohamed Mursi.
Baradei participou desde o início das negociações com os militares que, após serem boicotadas pelo então presidente, levaram ao golpe que terminou com Mursi deposto. O presidente interino, Adly Mansur, já o chamou para o palácio presidencial para uma reunião que deverá oficializar seu nome.
A informação sobre a escolha do cargo foi informada às agências de notícias Mena e Reuters por fontes do gabinete interino. Em entrevista à Associated Press, o membro da Frente de Salvação Nacional, Khaled Dawoud, também confirmou a informação.
Havia boatos durante a semana sobre a possibilidade de que Baradei se tornasse o premiê egípcio, mas o diplomata dava sinais de não ter a intenção de aceitar o cargo --que pode tornar-se uma mancha em sua carreira, conforme ele se associa com uma administração cuja legitimidade é questionada.
A decisão é anunciada horas depois de o Nobel da Paz participara de uma reunião com Mansur no palácio presidencial. Também se encontraram com o presidente outros líderes políticos --o islâmico moderado Abdel Monein Abul Futuh, o líder do partido salafista Al Nur, Galal Morra, e três membros do movimento Tamarrod.
A Irmandade Muçulmana, do deposto Mursi, boicotou a reunião e recusou o novo premiê. Em seguida, o presidente interino esteve com o chefe do Estado-Maior, Abdel Fattah al-Sisi, e o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim. A posse deverá acontecer nas próximas horas.
Mohamed el-Baradei é negociador nuclear da ONU desde a década de 1990 e foi diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele foi premiado com o Prêmio Nobel da Paz em 2005, por sua atuação para a não proliferação da tecnologia nuclear.
Na política egípcia, apoiou a revolta que deu fim à ditadura de Hosni Mubarak (1982-2011) e pediu pela saída da junta militar que governou o Egito no período de transição. Ele apoiou o processo eleitoral do presidente Mohamed Mursi, mas ficou contrário a seu governo.
A oposição aumentou após o mandatário deposto aumentar seus poderes e a interferência no Poder Judiciário, em novembro. Desde então, passou a apoiar o boicote de algumas iniciativas de diálogo propostas pelo governo, como a Assembleia Constituinte e os vários pedidos de negociação com Mursi.
PROTESTOS
A nomeação de Baradei acontece em meio à tensão entre grupos aliados e contrários à Mohamed Mursi no Cairo e em outras cidades egípcias. A capital egípcia passará por novos protestos convocados nesta sexta pelo líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, pela reintegração de Mursi.
Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 36 pessoas morreram desde ontem em todo o país, sendo que o maior número, 12, foi em Alexandria. No Cairo, cinco pessoas morreram em frente ao quartel da Guarda Revolucionária, onde Mursi está preso. Outras mil pessoas ficaram feridas.
Na madrugada deste sábado, foi detido também o vice-líder da Irmandade Muçulmana, Khairat al-Shater, que tentou ser candidato a presidente no país no ano passado. Centenas de mandados de prisão foram emitidos contra o movimento político após o golpe.
Neste sábado, a capital egípcia amanheceu com barricadas e as ruas estavam cobertas de pedras e de pneus queimados, que davam uma ideia da violência ocorrida durante a noite. As forças de segurança estavam mobilizadas, com homens armados, em alguns cruzamentos e pontes sobre o rio Nilo.
A tensão ainda era perceptível nas imediações da universidade do Cairo, na margem ocidental do Nilo, onde a Irmandade Muçulmana levantou barricadas e prendeu retratos do presidente deposto. Na praça Tahrir, rivais de Mursi estavam armados com paus, como prevenção a ataques.
Na Península do Sinai, o padre cristão copta Mina Aboud Sharween foi morto por homens armados na cidade de El Arish. O acirramento político aumenta a preocupação de conflito tornar contornos sectários. O papa da Igreja Copta, Tawadros 2º, deu apoio ao golpe contra Mursi.