O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou neste domingo, em coletiva com a imprensa internacional, que “não há fome em Gaza”, contrariando dados da Organização das Nações Unidas (ONU) que apontam desnutrição aguda em milhares de crianças palestinas.
Acusações à imprensa e à ONU
Netanyahu classificou imagens divulgadas por veículos como o New York Times , mostrando crianças visivelmente desnutridas, como “falsas” e parte de uma “campanha global de mentiras”. Segundo ele, o jornal norte-americano será processado por supostamente ocultar informações médicas sobre uma das crianças retratadas.
O premiê afirmou que, se Israel tivesse uma “política de fome”, ninguém teria sobrevivido em Gaza após dois anos de guerra. Admitiu, porém, que há “privação”, mas culpou o Hamas e a ONU por se recusarem a distribuir suprimentos.
Números da crise
Relatórios da ONU indicam que, desde abril, mais de 200 mil crianças receberam tratamento por desnutrição aguda na Faixa de Gaza. Ao menos 16 menores de cinco anos morreram por causas relacionadas à fome desde meados de julho. O Programa Mundial de Alimentos comparou o cenário a tragédias históricas na Etiópia e na Nigéria, quando a fome foi usada como arma de guerra.
O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que 217 pessoas morreram de desnutrição desde o início do conflito, incluindo 100 crianças. Desde o início da guerra, mais de 61 mil pessoas foram mortas por ataques israelenses, segundo a Defesa Civil local.
Bloqueio e ajuda humanitária
A situação piorou após março, quando Israel impôs bloqueio total ao enclave, suspenso parcialmente em maio. Desde então, a distribuição de ajuda ficou concentrada na Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por EUA e Israel, mas criticada por organizações internacionais.
Segundo a ONU, mais de mil palestinos morreram enquanto aguardavam remessas de alimentos. A média diária de caminhões com ajuda humanitária caiu para 69, bem abaixo dos 500 que entravam antes da guerra.
Plano militar
Netanyahu confirmou que o exército se prepara para tomar a Cidade de Gaza e áreas do centro do território, com o objetivo de “desmilitarizar” a região. Disse que a população civil poderá sair das zonas de combate por “corredores protegidos” e que receberá provisões “em abundância”.
O líder voltou a acusar o Hamas de saquear caminhões de ajuda e a ONU de atrasar distribuições. “Vamos aumentar o número de pontos de distribuição da GHF”, afirmou.