Mulher obrigada a casar aos 15 e torturada torna-se prefeita na Turquia

Forçada a se casar com um primo quando tinha 15 anos, Berivan Elif Kilic era frequentemente espancada pelo marido. Agora ela governa sua cidade natal

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Em 2009, Berivan Elif Kilic vivia o maior dos seus pesadelos, com espancamentos diários por um marido com quem foi forçada a se casar quando era apenas uma menina. Hoje, é a prefeita recém-eleita de sua cidade natal no sudeste da Turquia e luta pelos direitos das mulheres. "As pessoas acreditam em mim quando eu falo sobre a violência doméstica", disse Kilic em entrevista para o jornal The Daily Beast. Esta semana, Kilic, de 33 anos, tornou-se oficialmente a prefeita de Kocakoy, uma cidade agrícola de 17 mil pessoas na Turquia. Membro do Partido para a Paz e Democracia (BDP), Kilic compartilha o cargo de prefeita com seu companheiro de chapa masculino, Affullah Kar (isso porque, segundo as regras políticas do partido, todas as posições de topo são divididas entre um homem e uma mulher, para promover a participação feminina na política).

Aos 15 anos, Kilic foi retirada da escola por seus pais e forçada a se casar com um primo. Apesar do casamento dentro da família ser supercomum na Turquia, a idade mínima éde 17. Mas milhares de meninas com idade inferior a legal são casadas em cerimônias islâmicas não legalizadas pelo Estado. Como a prática é ilegal, não há números oficiais sobre quantos adolescentes são casados abaixo de 17. Kilic disse na entrevista que sua mãe tinha casou com idade semelhante, por isso obrigou a filha a fazer o mesmo. A garota, por sua vez, engravidou cerca de um ano depois e se mudou com o marido para Diyarbakir, principal cidade da região curda da Turquia, onde teve outro filho. Hoje, os dois filhos têm 13 e 17 anos de idade.

Quando completou 28 anos, Kilic tomou coragem e pediu o divórcio. "Eu não conseguia dormir bem por um ano depois que eu deixei o meu marido, porque eu estava com tanto medo depois de ter sido espancada ao longo dos anos", revelou na entrevista. Ela se mudou para a casa de seus pais em Kocakoy e começou sua carreira política no BDP. Entre seus objetivos pessoais está obter um diploma do ensino médio e de sociologia ou psicologia. Um de seus filhos tem uma doença genética semelhante a paralisia infantil e hoje a mãe procura tratamento no exterior.

Enquanto isso, ela tem uma cidade para governar, fato único por lá até agora. "Não houve uma mulher sequer na administração daqui até agora", disse ela, que tem muito trabalho pela frente. ?Apenas alguns anos atrás, uma menina nessa cidade foi morto por sua família, porque ela tinha supostamente trocado olhares com um homem. Esse é o tipo de coisa que estamos lutando contra". Um dos planos dela como prefeita é organizar oficinas em Kocakoy para informar as mulheres sobre os seus direitos e dar alguma educação básica à cidade.

"Em nossa sociedade, os homens podem fazer o que quiserem. Inferioridade das mulheres tem sido aceito como um destino, mas não é. Nenhum ser humano vale mais do que o outro." Quanto a aceitação das pessoas em ter uma primeira mulher no governo, os resultados são otimistas e até os homens estão confiantes que a cidade vai melhorar. "Uma mulher disse que eu era como alguém de outro mundo. Mas olhe para mim: Eu não tenho educação, nem emprego, e ainda assim sou a prefeito agora. As mulheres foram assistir meus comícios em massa. Elas diziam ?Se Berivan pode dar a volta por cima, então eu também posso ".

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