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Mercosul e União Europeia avançam em tratado histórico, mas oposição pode barrar acordo

Acordo prevê ampla redução de tarifas, mas enfrenta resistência de países europeus

Bandeiras do Mercosul e da União Europeia | Foto: Reprodução
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O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há mais de duas décadas, voltou ao centro do debate internacional após sinais de que a assinatura prevista para 2025 pode enfrentar obstáculos políticos dentro do bloco europeu. França, Polônia, Itália e Hungria já manifestaram oposição ao tratado, o que pode inviabilizar sua aprovação no Conselho Europeu, mesmo após avanços técnicos e diplomáticos.

A posição contrária da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, anunciada nos últimos dias, reforçou o bloco de países críticos ao acordo. França e Polônia já haviam sinalizado resistência, enquanto a Hungria também se colocou contra. Juntos, esses países reúnem força política suficiente para barrar a ratificação. O tema ganhou ainda mais peso após o Parlamento Europeu apoiar, na terça-feira (16), controles mais rígidos sobre importações agrícolas.

Primeira-Ministra da Itália, Giorgia Meloni - Foto: Reuters

Redução de tarifas e acesso a mercados

O acordo prevê a eliminação de tarifas sobre 91% das exportações da União Europeia para o Mercosul ao longo de até 15 anos, incluindo automóveis, atualmente taxados em até 35%. Em contrapartida, a UE reduzirá tarifas sobre 92% das exportações do Mercosul em até 10 anos. Produtos agrícolas também estão no centro das concessões, como a redução de tarifas sobre vinhos, bebidas destiladas e a criação de cotas para carne bovina, queijos, aves, açúcar e etanol.

A Comissão Europeia e países favoráveis, como Alemanha e Espanha, afirmam que o acordo reduz a dependência europeia da China, especialmente no acesso a minerais críticos como o lítio, essencial para baterias. Segundo a Comissão, o tratado pode eliminar mais de 4 bilhões de euros por ano em tarifas sobre exportações europeias e ampliar a presença de empresas da UE em contratos públicos no Mercosul, algo inédito em acordos anteriores.

Críticas do setor agrícola e ambiental

Agricultores europeus lideram os protestos contra o acordo, alegando concorrência desleal com produtos sul-americanos, especialmente carne bovina, que, segundo eles, não atenderiam aos padrões ambientais e sanitários da UE. Grupos ambientalistas também criticam o tratado. A organização Amigos da Terra classificou o acordo como “devastador para o clima”, afirmando que ele pode estimular o desmatamento em países do Mercosul, inclusive na Amazônia, apesar de compromissos ambientais previstos no texto.

Para reduzir resistências, a Comissão Europeia propôs mecanismos de salvaguarda que permitiriam suspender benefícios comerciais caso importações agrícolas aumentem significativamente ou provoquem queda de preços no mercado europeu. Também foram anunciados estudos para alinhar padrões de produção e o reforço de controles fronteiriços. Além disso, o próximo orçamento da UE deve prever um fundo de crise de 6,3 bilhões de euros para proteger agricultores em caso de impactos negativos do acordo.


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