Os pais de uma cadete alemã que morreu após cair de um navio-escola da Marinha alemã denunciarão nesta segunda-feira à Justiça o suposto crime de abuso sexual sofrido por sua filha depois que o Exército evitou iniciar uma investigação própria sobre sua morte.
Este novo escândalo dentro das Forças Armadas alemãs, revelado nesta segunda-feira pelo jornal "Bild", se soma aos outros três descobertos na semana passada, entre eles a morte de uma segunda cadete que estava a bordo do mesmo navio-escola, o "Gorch Fock".
Os pais de Jenny Böken, que morreu no Mar do Norte em 3 de setembro de 2008 aos 18 anos, consideram que diante da falta de ação do Exército, devem comparecer à Justiça com seus indícios de que sua filha foi abusada sexualmente no navio militar e que não morreu em um acidente, como assegura a versão oficial.
"Considero provável que Jenny tenha sido pressionada e que tenha caído durante uma briga. Um acidente não faz sentido. Desde o princípio pensei que tudo tivesse acontecido por uma coerção sexual", afirmou o pai da vítima, Uwe Böken, ao jornal.
A família da jovem cadete revelou ainda que, um dia antes de sua morte, Jenny Böken enviou um e-mail à mãe no qual afirmava que precisava urgentemente ir a um ginecologista, e pedia para que marcasse uma consulta para o mesmo dia de seu retorno.
"À luz dos últimos eventos (as especulações de abusos sobre a outra cadete morta), me parece muito estranho que Jenny quisesse ir a um ginecologista de sua confiança o mais rápido possível", argumentou seu pai.
A família criticou o fato de que as Forças Armadas alemãs nunca tenham iniciado uma investigação interna para esclarecer a morte da cadete, apesar de terem prometido que estudariam o caso.
Na semana passada, foi divulgado que outra cadete do "Gorch Fock" de 25 anos, Sarah Lena, morreu ao cair do alto de um mastro e houve especulações a respeito da possibilidade que também tenha sofrido assédio sexual a bordo do navio-escola alemão.
Além disso, nos últimos dias foi revelado que um soldado alemão destacado no Afeganistão morreu após ser baleado, supostamente de forma acidental, por um companheiro, e também foram feitas denúncias de que muitas cartas trocadas entre soldados alemães e suas famílias foram abertas e inspecionadas por desconhecidos.
Todos estes escândalos provocaram a interdição da gestão do ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg.
O ministro ordenou uma revisão geral de todas as Forças Armadas para evitar situações de abuso e afastou de maneira imediata o comandante do "Gorch Fock", Norbert Schatz.
Apesar de esta medida ter causado certo mal-estar dentro do Exército, Guttenberg a qualificou como "apropriada e necessária" e lembrou que a investigação sobre a morte de Sarah Lena ainda está na "primeira fase", a de "esclarecimento dos fatos".
A chanceler alemã Angela Merkel saiu nesta segunda-feira em defesa de seu ministro e o porta-voz do gabinete, Steffen Seibert, assinalou que a chefe de Governo "apoia totalmente" a gestão de Guttenberg.