O presidente Barack Obama está sofrendo pressão para resolver a crescente crise migratória na fronteira sudoeste dos Estados Unidos, onde milhares de crianças entram desacompanhadas no país.
A crise impulsionou o debate sobre a imigração para os Estados Unidos, que volta aos holofotes uma vez que houve um aumento drástico no número de crianças tentando entrar ilegalmente no país.
Entre outubro de 2013 a 15 de junho passado, 52 mil crianças desacompanhadas foram detidas ao tentar entrar no país pela fronteira com o México, segundo o Departamento de Segurança Nacional.
A questão ganhou força política. Tanto o presidente como a oposição republicana discutem como responder e entender as causas dessa crise.
Muitas crianças estão sendo mantidas em centros de detenção lotados, como armazéns improvisados, enquanto autoridades americanas lutam para realizar audiências de deportação o mais rápido possível.
O presidente Obama classificou a situação de "crise humana".
As causas
A imigração para os Estados Unidos vinda do México e da América Central tem sido impulsionada por dificuldades econômicas e pela violência nos países de origem.
Um recente aumento do número de gangues e da violência ligada às drogas na Guatemala, El Salvador e Honduras têm aumentado o fluxo de imigrantes vindos desses países.
Críticos do governo também apontam para uma política dos Estados Unidos, que permite a permanência de imigrantes ilegais no país, reduzindo o medo da deportação. Mas os menores recém-chegados não estão incluídos nessa exceção.
A longa duração dos processos de deportação também contribui para a percepção de que muitos estão sendo autorizados a ficar de forma permanente no país.
A Casa Branca alertou que existem grupos tirando proveito financeiro das brechas legais, lucrando com o contrabando.
"Organizações criminosas de contrabandistas estão disseminando desinformação de que existe um suposto passe livre para os Estados Unidos", disse o secretário de Segurança Interna Jeh Johnson à emissora NBC.
Tanto o partido Democrata, quanto o Republicano, concordam que o sistema de imigração dos Estados Unidos precisa de reforma, mas não há convergência de ideias sobre como fazê-lo.
Um projeto de lei que incluía a concessão de cidadania a 11 milhões de imigrantes não documentados foi aprovado no Senado no ano passado, mas não há previsão de votação no Congresso.
A resposta do governo
O governo ampliou uma campanha que busca sensibilizar e informar melhor o público e até enviou o vice-presidente Joe Biden para se reunir com líderes da Guatemala para discutir o assunto. Ele concedeu entrevistas à mídia de língua espanhola e foram veiculados em países emissores de imigrantes anúncios que destacam os perigos de se cruzar a fronteira ilegalmente.
Obama prometeu aumentar os recursos para controle de fronteiras, incluindo o endurecimento nas deportações dos que recentemente entraram ilegalmente no país ou que são considerados perigosos.
Além do envio de pessoal adicional para ajudar na fiscalização e controle, Obama disse que orientou o secretário de Segurança Nacional e o Promotor Geral do país a apresentarem, até o final de setembro, recomendações de como melhorar o sistema de imigração.
Espera-se que a Casa Branca também solicite um financiamento adicional de US$ 2 bilhões (R$ 4,4 bilhões) para a contratação de mais juízes dedicados aos casos de imigração e para a construção de novos centros de detenção.
Atualmente, a legislação sobre o tráfico humano impede que os Estados Unidos enviem as crianças que não são provenientes do México ou do Canadá de volta a seu país de origem sem uma audiência de deportação.
A maioria dos menores detidos nos últimos meses não é de países que fazem fronteira com os Estados Unidos, e com a nova lei o governo espera obter mais flexibilidade nesse sentido.
Bloqueio
Ainda é muito cedo para dizer se a campanha do governo de conscientização do público está surtindo efeito.
Johnson disse que o aumento dos recursos destinados à fronteira ajudou a diminuir a tensão, mas acrescentou que o governo estava "procurando maneiras de criar opções adicionais para lidar com as crianças em particular."
A resposta imediata tem frustrado os moradores ao longo da fronteira. Na semana passada, pessoas gritando slogans e agitando bandeiras dos Estados Unidos bloquearam três ônibus que levavam famílias de países da América Central, sem documentos, a um posto de patrulha na fronteira de Murrieta, na Califórnia.
Os imigrantes foram levados do Texas, onde foi denunciada superlotação das instalações de triagem após um aumento na chegada de crianças em San Diego. Os manifestantes culparam o governo dos Estados Unidos por não "fortalecer a fronteira".
Republicanos culpam Obama por não fazer mais para evitar uma crise de imigração, mas o presidente dos Estados Unidos argumentou que republicanos bloquearam no Congresso as tentativas de reforma da lei de imigração.