Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (25), Fernando Lugo, presidente deposto do Paraguai, recusou reconhecer Federico Franco como novo mandatário e anunciou um ?gabinete paralelo? no país para voltar ao poder. Ele ainda acrescentou que ?não é possível definir o que vai acontecer no Paraguai nos próximos meses?.
Com isso, a postura de Lugo, que logo após sua deposição -- ocorrida na última sexta-feira (22) -- reconheceu o novo presidente, sofre uma reviravolta.
"Federico Franco -- não o chamo de presidente -- não tem autoridade para convocar o presidente Lugo para ser o mediador dos conflitos internacionais?, afirmou o ex-bispo, referindo-se às declarações de Franco, que disse que o procuraria para tentar resolver os problemas diplomáticos pós-destituição.
?Aqui houve uma quebra institucional do processo democrático, e esta quebra é reconhecida pela maioria da comunidade internacional?, continuou, em alusão aos países latino-americanos que não reconheceram seu impeachment.
?Nós nos submetemos ao julgamento político, mas não vamos dar o gosto aos promotores da morte, que provocaram a morte de camponeses e policiais?, acrescentou, assinalando que o ambiente em frente ao Congresso pode ter causado enfrentamentos, feridos e mortos.
As declarações de Lugo foram dadas em Assunção, na sede do Partido País Solidário (PPS), que integra a Frente Guasú. O ex-presidente esteve reunido no local com ministros que também foram depostos, além de apoiadores, em uma espécie de gabinete de governo paralelo.
O ex-bispo confirmou que tentará estar na Cúpula do Mercosul, na próxima quarta-feira (27), em Mendoza. ?O presidente Lugo está solicitando a presença na reunião para explicar pormenorizadamente o que aconteceu aqui?, disse, fazendo autoreferência.
Ele também voltou a dizer que aceitou a destituição para evitar um massacre, mas afirmou que mudou de postura por conta de ?um descontentamento nacional e internacional.?
Sobre a possibilidade de antecipar as eleições paraguaias, marcadas para abril de 2013, Lugo diz que isso cabe à Justiça Eleitoral. ?Isso não depende do presidente Lugo.?
A reunião entre Lugo e seus conselheiros foi convocada para articular o que o ex-presidente chamou de restauração da democracia. Na prática, a ideia é alinhavar de maneira objetiva seu retorno ao poder. Deputados e senadores aliados de Lugo tentam buscar maneiras de reverter o quadro político atual.
A criação do gabinete paralelo ocorre em um momento no qual as pressões externas ao Paraguai se intensificam. Argentina, Equador e Venezuela retiraram seus embaixadores do país; Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia convocaram os seus representantes no Paraguai para consultas.
Vários outros países da América Latina, inclusive a vizinha Bolívia, não reconhecem o governo de Franco. No domingo (24), Hugo Chávez, presidente venezuelano, suspendeu as provisões de petróleo ao Paraguai.
O Mercosul decidiu suspender o Paraguai da próxima cúpula, a se realizar a partir de quarta-feira (27) em Mendoza, na Argentina. Lugo, por sua vez, afirmou que irá ao encontro. A Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que se reúne na semana que vem no Peru, também suspendeu o Paraguai.
Preocupado com o isolamento, Franco afirmou que iria procurar Lugo para obter ajuda no diálogo com os países vizinhos, mas o ex-bispo disse que não atenderá o pedido. ?É um governo falso. Os cidadãos não aceitam um governo que rasgou a institucionalidade da República. Não se pode colaborar com um governo que não tem legitimidade dos cidadãos?, afirmou.