Incêndio em Los Angeles: Entenda porque fogo ficou mais intenso e se espalha com velocidade

O estado sempre foi vulnerável ao fogo, mas desde 2020 a velocidade com que os incêndios se espalham é quase quatro vezes maior do que há duas décadas.

Casa pega fogo em Los Angeles, na Califórnia | Mario Tama/Getty Images via AFP
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A recente tempestade de fogo que atingiu a Califórnia gerou um clima de pavor, mas não de surpresa. Trata-se de mais um episódio em uma sequência crescente de incêndios florestais que têm se mostrado cada vez mais devastadores no estado. A propagação e a intensidade das chamas aumentaram de forma notável desde o início do século, com os dez maiores incêndios da história da Califórnia ocorrendo desde 1991. O estado sempre foi vulnerável ao fogo, mas desde 2020 a velocidade com que os incêndios se espalham é quase quatro vezes maior do que há duas décadas, conforme revela um estudo publicado na Science. Nesta semana, os ventos, que podem alcançar até 160 km/h, são os mais fortes na região em dez anos.

A pesquisa, conduzida por cientistas das universidades do Colorado e da Califórnia, também aponta que, em todo o Oeste dos Estados Unidos, os incêndios estão se intensificando 250% mais rápido do que em 2001. Dados do Departamento Florestal e de Proteção contra Incêndios da Califórnia (Cal Fire) indicam que, nos últimos dez anos, a área queimada foi 1,6 vez maior do que a média anual desde 1979.

Esse cenário reflete as previsões sobre os efeitos das mudanças climáticas, que têm intensificado fatores como ventos, secas e temperaturas extremas. A ação humana também desempenha um papel crucial, com a ocupação de áreas de risco agravando ainda mais o problema.

CAUSA HUMANA?

Estima-se que a maioria dos incêndios florestais seja provocada por atividades humanas, seja de forma intencional ou acidental. De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), 84% dos incêndios no país têm origem em ações humanas, com os raios sendo responsáveis pelos 16% restantes. No caso da Califórnia, cerca de 95% dos incêndios registrados pelo Cal Fire foram iniciados por pessoas.

As encostas montanhosas da Califórnia são cobertas por florestas altamente inflamáveis, como pinheiros e outras coníferas, que possuem resinas que queimam rapidamente. Além disso, o solo acumula folhas secas, que alimentam as chamas. A diminuição das chuvas nos últimos anos tornou a vegetação mais seca e vulnerável ao fogo. Este ano, a escassez de chuvas no inverno tem sido ainda mais pronunciada. Contudo, o que realmente acelera a propagação do fogo são os ventos fortes.

Kimberley Simpson, da Faculdade de Biociências da Universidade de Sheffield, explica: “A combinação de um período prolongado de chuvas escassas com os ventos secos de Santa Ana, provenientes das regiões do interior, criou as condições ideais para o desastre. A vegetação extremamente seca entra em combustão facilmente na baixa umidade.”

O PAPEL DOS VENTOS

O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA informou que os ventos atingiram velocidades de até 160 km/h, espalhando rapidamente as chamas. Esses ventos são conhecidos como catabáticos, que são mais intensos na Califórnia entre setembro e março. Eles se formam devido à diferença de temperatura e densidade do ar em diferentes altitudes. Nas regiões montanhosas, o ar se resfria mais rapidamente durante a noite e, devido à gravidade, desce para áreas mais baixas, aquecendo-se, mas permanecendo mais seco e quente. Essa movimentação de ar cria condições ideais para que o fogo se espalhe.

Na Califórnia, esses ventos são chamados de Santa Ana no sul e Ventos do Diabo no norte. Eles trazem calor e secura dos desertos de Nevada e Utah, geralmente soprando com maior força durante a noite, quando a diferença de temperatura entre as montanhas e os vales é mais acentuada.

A ERA DO FOGO

Embora os ventos catabáticos sejam mais comuns no outono e inverno, a especialista Kimberley Simpson, assim como outros especialistas em incêndios florestais, observa que tais condições podem ocorrer em qualquer época do ano, devido às mudanças climáticas.

Em janeiro de 2020, durante outro grande incêndio na Costa Oeste dos EUA, o historiador e especialista em incêndios florestais Stephen Pyne, da Universidade Estadual do Arizona, popularizou o termo piroceano, ou “era do fogo”. Segundo Pyne, as evidências científicas já indicavam que os incêndios florestais estavam se tornando mais frequentes e destrutivos globalmente.

Cientistas afirmam que, na raiz dessa crise, está a ação humana, que contribui tanto para as mudanças climáticas quanto para práticas agrícolas e de ocupação inadequadas. Paradoxalmente, um número crescente de pessoas escolhe viver em áreas de alto risco de incêndios, exacerbando a situação.

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