O partido conservador União Democrática Cristã (CDU) venceu as eleições realizadas neste domingo na Alemanha, em um pleito que também registrou um avanço expressivo da extrema direita no país.
Os resultados oficiais confirmaram as projeções das pesquisas de intenção de voto e de boca de urna. Apesar da vitória, o CDU não obteve a maioria necessária para governar sozinho, e seu líder, Friedrich Merz, terá que negociar alianças para garantir a formação de um novo governo.
O segundo partido mais votado foi a legenda de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que atingiu um percentual recorde para esse espectro político desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
As eleições, convocadas antecipadamente após o colapso do governo de coalizão (entenda mais abaixo), tiveram os seguintes resultados, conforme dados da agência Reuters:
- O CDU, liderado por Friedrich Merz, obteve 28,5% dos votos.
- O AfD conquistou cerca de 20,5%, percentual que já havia sido indicado pelas pesquisas.
- O Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, ficou em terceiro lugar, com 16,5%.
- O Partido Verde teve 11,8% dos votos, ocupando a quarta posição.
- O bloco de partidos de esquerda alcançou 8,7%.
A participação eleitoral foi de 83%, um índice considerado elevado para os padrões alemães. No total, 61 milhões de eleitores estavam aptos a votar no país, onde o voto não é obrigatório.
Caminho para formar um governo
A vitória do CDU não significa que Friedrich Merz assumirá imediatamente a chefia do governo. No modelo parlamentarista alemão, é necessário que o partido vencedor alcance um número mínimo de assentos no Parlamento para governar.
Dado que o percentual obtido pelo CDU não garante essa maioria, será necessário articular uma coalizão com outras legendas. Esse processo pode levar meses e, caso não haja acordo, novas eleições podem ser convocadas.
Merz já declarou que não pretende formar aliança com o AfD. No entanto, declarações feitas ao longo da campanha, principalmente sobre imigração, levantaram questionamentos sobre a possibilidade de uma mudança de posicionamento.
Após a divulgação dos resultados preliminares, Merz afirmou ser fundamental que o novo governo seja formado "o quanto antes" e declarou que o resultado eleitoral mostra que "a Alemanha está novamente presente na Europa".
O atual chanceler Olaf Scholz reconheceu a derrota do SPD em um pronunciamento após o fechamento das urnas.
A apuração dos votos deve ser concluída até o fim da noite no horário local (início da noite no horário de Brasília).
Queda do governo e eleições antecipadas
O pleito deste domingo foi convocado de forma antecipada após a crise que resultou no colapso do governo de coalizão liderado por Scholz.
Desde 2021, o chanceler governava com uma aliança que reunia social-democratas, ecologistas e liberais. No entanto, em novembro do ano passado, Scholz demitiu seu ministro das Finanças, representante do partido liberal, devido a divergências sobre política econômica. Como resposta, os demais ministros liberais também deixaram o governo, retirando a maioria parlamentar necessária para a continuidade da administração.
Diante desse cenário, Scholz foi submetido a uma moção de censura no Parlamento e reprovado, levando o presidente do país a convocar novas eleições.
A queda do governo alemão ocorre em um momento de grande instabilidade na União Europeia, com tensões elevadas entre o bloco e a Rússia devido à guerra na Ucrânia. A crise política na Alemanha segue uma tendência já observada em outros países europeus, como a França.
Sistema eleitoral alemão e desafios para a formação do governo
O sistema eleitoral alemão combina votação em candidatos e partidos. O número de cadeiras no Bundestag (Parlamento Federal) é definido proporcionalmente à votação obtida por cada legenda.
O avanço da extrema direita representada pelo AfD pode dificultar a formação de um governo de coalizão. Nos últimos anos, os principais partidos alemães têm se recusado a negociar com o AfD, que enfrenta investigações por extremismo e acusações de ligação com movimentos neonazistas.
Além das repercussões internas, o resultado das eleições na maior economia da União Europeia pode influenciar o rumo do bloco. O posicionamento da Alemanha também será relevante para as respostas europeias às declarações recentes do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre tarifas e apoio à Ucrânia.