O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy chegou na manhã desta terça-feira (21) à prisão de La Santé, no 14º distrito de Paris. Aos 70 anos, ele se torna o primeiro ex-chefe de Estado da França desde a Segunda Guerra Mundial a ser preso. Assim que entrou no presídio, foi recebido com gritos de “Bem-vindo, Sarkozy!” e “Sarkozy está aqui!”, vindos de outros detentos.
A prisão ocorre um mês após sua condenação a cinco anos de detenção por associação criminosa, em um processo que investiga o suposto financiamento líbio de sua campanha presidencial de 2007. Os advogados do ex-presidente já apresentaram um pedido de liberdade, enquanto ele continua afirmando ser inocente.
Antes de se entregar, Sarkozy deixou sua casa por volta das 9h15 (horário local), acompanhado da esposa Carla Bruni, para cumprimentar apoiadores que se reuniram do lado de fora. O ex-presidente saiu sob aplausos, escoltado por uma frota policial pelas ruas de Paris.
Em uma mensagem publicada na rede social X, o ex-mandatário reafirmou sua determinação: “A verdade triunfará, mas o preço a pagar terá sido altíssimo.”
Sarkozy classificou a prisão como um “escândalo judicial” e afirmou que não teme o encarceramento. “Não é um antigo presidente da República que se prende esta manhã, é um inocente”, declarou. Ao jornal La Tribune Dimanche, disse ainda: “Quiseram me fazer desaparecer, isso me faz renascer.”
O ex-presidente revelou que levou três livros para a prisão — entre eles O Conde de Monte Cristo — e pretende escrever sobre sua experiência atrás das grades. Mesmo condenado, Sarkozy manteve uma rotina pública até os últimos dias de liberdade, participando de eventos esportivos e familiares. Ele também seguirá atuando como administrador dos grupos Lagardère e Accor.
Na prisão de La Santé, o ex-chefe de Estado foi colocado em uma cela de 9 m², na ala de isolamento, medida adotada por segurança. O espaço contém uma cama, mesa, chuveiro e vaso sanitário, além de um kit básico com roupas de cama, toalha, louça e papel higiênico. Sarkozy terá direito a três visitas semanais, uso de telefone fixo e uma hora de passeio diário, sem contato com outros detentos.
A defesa classificou a prisão como “uma vergonha”. Um dos advogados, Jean-Michel Darrois, disse que o ex-presidente está “lidando com a situação”. O pedido de liberdade já foi protocolado, e a Corte de Apelação tem até dois meses para decidir.
O caso ganhou força em setembro, quando o tribunal correcional de Paris o declarou culpado por permitir que aliados buscassem apoio financeiro junto à Líbia do ditador Muammar Kadhafi. Segundo a Justiça, a gravidade dos fatos justificou a prisão em regime fechado.
Apesar da tensão, o atual presidente francês, Emmanuel Macron, fez questão de receber Sarkozy dias antes da prisão. “Sempre defendi a independência do Judiciário, mas seria normal, do ponto de vista humano, acolher um ex-presidente neste contexto”, afirmou Macron.