O ex-ditador argentino Jorge Videla assumiu nesta terça-feira (21) a responsabilidade por crimes políticos cometidos no país entre 1976-83, ao final de um julgamento sobre o fuzilamento de 31 presos políticos em Córdoba (centro).
"Assumo plenamente minhas responsabilidades. Meus subordinados limitaram-se a cumprir ordens", destacou Videla no tribunal de Córdoba, um dia antes da divulgação do veredicto.
Videla é acusado desses crimes junto a outros 29 militares.
No depoimento final de 49 minutos que leu pausadamente, o ex-ditador, de 85 anos, disse que assumirá "sob protesto a injusta condenação que possam me dar".
A promotoria havia pedido, em novembro, a pena de prisão perpétua para Videla, que, no dia 24 de março de 1976, comandou um golpe que instaurou uma ditadura que deixou 30.000 desaparecidos, segundo entidades humanitárias.
"Reclamo a honra da vitória e lamento as sequelas. Valorizo os que, com dor autêntica, choram seus seres queridos, lamento que os direitos humanos sejam utilizados com fins políticos", disse Videla.
Depois apontou para o governo da presidente Cristina Kirchner, assinalando que as organizações armadas dissolvidas "não mais precisam da violência para chegar ao poder, porque já estão no poder e, daí, tentam a instauração de um regime marxista à maneira de (Antonio) Gramsci" (téorico marxista italiano).
Prisão perpétua
Videla, como comandante da ditadura (1976-81), e Luciano Menéndez, 83 anos, como ex-chefe militar com jurisdição em 11 províncias, são os dois militares de mais alta patente acusados pelo assassinato de 31 presos políticos numa prisão de Córdoba.
O ex-ditador havia sido condenado à prisão perpétua num histórico julgamento dos comandantes militares em 1985, mas recebeu indulto alguns anos mais tarde, pelo então presidente Carlos Menem (1989-99).
O perdão foi anulado pela Corte Suprema em 2007 e, desde então, contra Videla, foram somadas várias causas por crimes de lesa-Humanidade, durante a ditadura.
Em outro setor, os familiares das vítimas, acompanhados pelo Prêmio Nobel da Paz (1980), Adolfo Pérez Esquivel, ouviam o depoimento de Videla com gestos de desaprovação mas sem que se registrassem incidentes.
O julgamento "é um avanço importantíssimo no direito à verdade e à justiça (...)", disse Pérez Esquivel.
Em Buenos Aires, três ex-militares foram condenados nesta terça-feira à prisão perpétua por crimes cometidos durante a ditadura (1976-83) na base naval da cidade balneária de Mar del Plata.
São eles Alfredo Manuel Arrillaga, do Exército, e os ex-oficiais da Marinha Justo Ignacio Ortiz e Roberto Luis Pertusio, anunciou o Centro de Informação Judicial (CIJ).
O Tribunal Oral Federal de Mar del Plata aceitou a acusação feita contra os três por "privação ilegal da liberdade duplamente agravada e imposição de tormentos agravada".
Os três condenados somam-se a outros 131 repressores sentenciados por crimes de lesa-Humanidade durante a ditadura argentina (1976/83).