A eleição de Donald Trump é ruim para o clima da Terra. Estamos num momento crítico para evitar as piores consequências das mudanças climáticas. Não há dúvidas científicas relevantes sobre o impacto das emissões derivadas das atividades humanas no clima. Pesquisadores acreditam que é preciso manter o aquecimento num patamar entre 1,5 e 2 grau centígrado para que as mudanças (ainda grandes) sejam administráveis. Para isso, precisamos de medidas urgentes para mudar os rumos das grandes economias, trocando investimentos em combustíveis fósseis (como o gás de xisto dos EUA) por uma transição para fontes de energia limpas. O aquecimento está mostrando sua cara. Os anos de 2014 e 2015 bateram sucessivamente os recordes históricos de calor. O ano de 2016 está a caminho de bater de novo. Passamos por uma aceleração do aquecimento que pode nos jogar num novo patamar de clima.
O Acordo de Paris, costurado em dezembro passado, é uma colcha de retalhos de metas frouxas apresentadas pelos países. Estudos mostram que o acordo sozinho é insuficiente para controlar o aquecimento. Mas ele é um precioso início de caminho. É possível acelerar a implantação do acordo e puxar as metas para alvos mais ambiciosos. Isso começa a ser discutido agora numa conferência do clima em Marrakesh.
Mas Trump é o presidente errado na hora mais errada. Ao longo da campanha, ele disse que ia "cancelar" o Acordo de Paris. Também disse que ia cortar toda a ajuda a programas de mitigação às mudanças climáticas das Nações Unidas. Dentro dos EUA, Trump declarou apoio a desregulamentação para facilitar a expansão do gás de xisto e por novas explorações de petróleo. E é a favor da construção de um oleoduto polêmico ligando os EUA e o Canadá.
Pior que isso. Trump diz que não acredita na ciência. Contrariando décadas de conclusões dos principais centros de pesquisa científica do mundo, ele disse em 2012 que o aquecimento global é um "mito". Em seu Twitter, ele disse que o conceito de aquecimento global foi criado por chineses para prejudicar a competitividade da indústria americana. Na campanha presidencial atual, Trump mudou um pouco. Dessa vez, disse que o aquecimento global é um fenônomeno natural, de novo indo contra o consenso científico.
O último presidente relacionado à indústria do combustível fóssil, George H. Bush, também negacionista da clima, fez um estrago no país que hospeda a melhor ciência do mundo. Em 2006, James Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais, e um dos principais pesquisadores do clima do mundo, disse que a administração Bush tentou silenciá-lo. Hansei afirmou que a Nasa tinha funcionado sob controle do governo Bush para não divulgar dados preocupantes sobre o aquecimento. Não dá para imaginar o que Trump pode fazer para desmontar os esforços para salvar o clima ou mesmo as pesquisas científicas.
Participantes da COP em Marrakesh estão tentando manter o otimismo. "O mundo vai continuar. Trump não poderá negar os benefícios que a economia limpa trazem para o país. E aqui os outros países devem manter seus compromissos", disse André Ferretti, do Observatório do Clima. Em última análise, a capacidade de estrago de Trump vai depender da pressão das indústrias americanas que se beneficiam com a transição para uma economia limpa. Fontes renováveis de energia geram mais emprego nos EUA do que o carvão. Governos estaduais estão avançados em medidas contra as mudanças climáticas. Podem oferecer um contrapeso. O estrago provocado por Trump vai depender dessas forças. Afinal, ele agora é presidente de todos os americanos. E terá que se conciliar com a realidade. Campanha é uma coisa, governo é outra.