A brutalidade da guerra em Gaza não atinge apenas os moradores. Com a cidade em ruínas e cadáveres espalhados pelas ruas após meses de ofensivas israelenses, até os animais têm seu comportamento transformado. Em meio à crise de fome, moradores relatam que cães vadios, sem alimento, passaram a devorar corpos humanos e atacar pessoas nas ruas.
— À noite, ouvimos os cães a uivar. Tornaram-se selvagens de tanto comerem cadáveres. O seu ladrar mudou, tornando-se feroz — contou à CNN o palestino Majdi Abu Hamdi, de 40 anos e pai de quatro filhos, em matéria publicada nesta segunda-feira.
Segundo ele, os ataques não se limitam a humanos: — Há dois dias, por engano, um gato passou perto deles. Mais de vinte cães atacaram-no e despedaçaram-no.
As cenas de violência envolvendo animais ilustram a degradação da vida cotidiana na Cidade de Gaza. A escassez de comida, o colapso dos serviços de higiene e a ausência de controle transformaram as ruas em ambientes inseguros, tanto pelo risco de confrontos armados quanto pela ação de cães famintos.
Relatos de moradores indicam que a população, já debilitada pela fome e má alimentação, passou a temer ataques dos animais. Famílias relatam que evitam circular após o pôr do sol, quando os cães uivam e patrulham as ruas em busca de alimento.
Pela primeira vez, ONU confirma fome na Cidade de Gaza
Pela primeira vez, a Cidade de Gaza foi oficialmente declarada em estado de fome, segundo relatório do IPC, órgão apoiado pela ONU. Cerca de 500 mil pessoas enfrentam condições catastróficas, com fome extrema, miséria e risco elevado de morte.
Autoridades da ONU apontaram que o cenário poderia ter sido evitado por ações de Israel, classificando o uso da fome como arma militar como crime de guerra. O governo israelense chamou a declaração de "mentira descarada".
O relatório indica que a Província de Gaza, cerca de 20% do território, está na fase 5 da Escala de Insegurança Alimentar Aguda (AFI), a mais severa do padrão internacional. Desde 2004, a classificação máxima ocorreu apenas quatro vezes: Somália (2011), Sudão do Sul (2017 e 2020) e Sudão (2024).