O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) leu na tribuna do Senado nesta quinta-feira (3) uma carta manuscrita pelo ex-ativista italiano Cesare Battisti na qual ele manifesta o desejo de construir uma ?sociedade justa? no Brasil. ?Desejo muito colaborar com a construção de uma sociedade justa no Brasil, por meios pacíficos, durante o resto da minha vida?, escreveu Battisti.
O senador petista visitou Battisti no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, na manhã desta terça. Battisti foi preso no Rio de Janeiro em 2007. Em janeiro de 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu refúgio ao ex-ativista, sob a justificativa de "fundado temor de perseguição?.
Membro do grupo Proletários Armados para o Comunismo (PAC), Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália pela suposta autoria de quatro assassinatos na década de 1970. A defesa nega o envolvimento do ex-ativista em assassinatos e acusa o governo italiano de perseguição política.
Na carta entregue a Suplicy, o italiano admite ter participado do PAC, mas nega envolvimento em assassinatos. ?Participei dos Proletários Armados para o Comunismo. Nessas ações nunca provoquei ferimentos ou morte de qualquer ser humano?, registrou Battisti.
Ainda de acordo com a carta do ex-ativista, desde que foi preso, ?nunca? perguntaram a ele sobre os supostos crimes. ?Até agora, nunca qualquer autoridade policial ou qualquer juiz me perguntou se cometi qualquer assassinato.?
No último dia de mandato, em 31 de dezembro de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a extradição de Battisti para a Itália. Lula acatou o parecer elaborado pela Advocacia Geral da União (AGU) que recomendava a manutenção de Battisti em território brasileiro.
Com a decisão, Lula deixou a resolução do impasse a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF), que deve decidir sobre a libertação do italiano, que está preso em Brasília, onde aguarda a conclusão do processo de extradição.
O caso envolvendo a extradição do ativista para a Itália transformou-se em uma das maiores polêmicas da diplomacia brasileira durante o segundo mandato do presidente Lula.
Fuga para o Brasil
Battisti fugiu da Itália em 1981, refugiou-se no México e passou 11 anos como exilado político na França durante o governo de François Mitterrand, mas teve o benefício cassado. Ele chegou ao Brasil em 2004, também foragido.