“Ela era corajosa”, diz pai de indiana morta em estupro coletivo

Ela sonhava construir um hospital em seu vilarejo natal.

Manifestantes fazem protesto contra a violência sexual, em Nova Déli, na Índia; veja mais fotos dos protestos | Raveendran/AFP
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O mundo a conhece apenas como "a vítima de estupro coletivo na Índia".

Mas sua família e seus amigos, ainda tentando lidar com a perda, lembram dela como uma garota corajosa, que sonhava em aliviar a dor dos outros.

Ela sonhava construir um hospital em seu vilarejo natal, no Estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia.

Ela raramente visitava o povoado, em uma das regiões menos desenvolvidas da Índia, mas dizia que queria fazer alguma coisa para ajudar as pessoas de lá.

A família se mudou para Nova Déli em 1983, em busca de uma vida melhor.

Mas nesta segunda-feira, a família retornou para lançar suas cinzas no rio Ganges. Eu visitei seus pais e irmãos no povoado. Eles deram entrevista sob anonimato.

"Ela era muito corajosa, não tinha medo, e era cheia de vida", diz seu pai, sentado de pernas cruzadas sobre uma pilha de feno do lado de fora da casa.

Educação

Nascida e criada em uma casa de classe média baixa, a garota de 23 anos viu na educação o passaporte para melhorar as condições financeiras de sua família.

Ela queria ser médica "desde que começou a brincar com bonecas", diz o pai.

"Eu disse várias vezes que não podia financiar seus estudos, mas ela não desistia."

Ela era determinada e acabou vencendo. A família vendeu um pedaço de terra para pagar por sua educação.

"Eu queria que meus filhos tivessem a melhor educação possível", diz o pai, orgulhoso.

Seu irmão, que foi o último membro da família a falar com ela antes do ataque, lembra dela como a irmã mais velha carinhosa e trabalhadora, que com seu exemplo influenciou os dois irmãos a estudar.

"Ela estudava dia e noite."

Ele chora ao lembrar das brigas que tinha com ela, a maior parte por causa do controle remoto da TV - ela gostava de assistir a novelas.

"Ela me repreendia, mas me amava muito."

Ataque

Ele relembra os eventos do dia em que sua irmã foi brutalmente atacada por seis homens em um ônibus.

"Minha irmã normalmente voltava para casa às 20h, todos os dias. Se ela sabia que iria se atrasar, telefonava e nos dizia quando estaria de volta", conta.

"Naquele dia ela telefonou por volta das 19h e eu atendi a ligação. Ela disse que iria se atrasar um pouco, mas quando eu comecei a telefonar para ela, depois das 20h, não consegui mais falar."

Algumas horas depois, a família recebeu um telefonema do hospital Safdarjung - para onde ela foi levada pela polícia - informando que a jovem havia "sofrido um acidente".

"Ela não tinha medo de ninguém. Nós jamais poderíamos imaginar que algo assim aconteceria...Ela também jamais deve ter imaginado."

Paraíso

Ele diz que a última vez em que falou com ela foi no hospital, no Natal.

"Ela fez um gesto, com as mãos, dizendo que iria para o paraíso", conta.

Seu pai lembra de como ela pediu por comida após ter recobrado a consciência, no hospital.

"Ela pediu um doce. O médico perguntou se ela queria um pirulito, e ela respondeu que sim."

O pai nega os boatos de que a filha estava prestes a se casar. "Ela dizia que não iria se casar até que seus irmãos concluíssem seus estudos."

O clima em seu antigo vilarejo é sombrio, e os moradores pedem a pena de morte para os acusados.

Mas seu pai pede aos dois filhos que olhem para frente.

"Ele nos disse para nos concentrarmos nos nossos estudos. Mas eu não consigo. Eu perdi a capacidade de sentir e pensar", diz o irmão.

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