Parecia um final feliz, mas, na realidade, o problema está longe de ser resolvido. O sucesso da manobra que acabou destravando o cargueiro Ever Given do Canal de Suez no final de março foi festejado por todo o mundo. A história do bloqueio de uma das rotas mais importantes para o comércio internacional havia chegado ao fim.
A razão? O Egito decidiu que não vai liberar o navio até que uma multa US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) seja paga como compensação pelos danos gerados durante a semana de bloqueio. O cargueiro de quase 400 metros está atualmente ancorado no chamado Grande Lago Amargo, um lago salgado situado entre o sul e o norte do Canal de Suez.
"O navio permanecerá aqui até que uma investigação seja concluída e a indenização seja paga", disse Osama Rabie, presidente da Autoridade do Canal de Suez (ACS), à televisão estatal egípcia.
"Esperamos um acordo rápido", acrescentou. "No momento em que concordarem com a compensação, o navio poderá se mover."
Em relação ao valor da indenização, Rabie disse no início de abril que "serão calculados os danos e perdas e quanto as máquinas de dragagem consumiram".
"A estimativa vai chegar a US $1 bilhão ou talvez um pouco mais. É um direito que o Egito tem", disse.
"O navio ficará aqui até que a investigação seja concluída e a indenização seja paga", disse Osama Rabie, presidente da Autoridade do Canal de Suez
Esse valor seria calculado com base na perda de taxas de uso do canal perdidas depois que diversos outros navios desviaram a rota, dando a volta pela África do Sul. Além disso, há os danos causados à hidrovia durante a drenagem, os esforços de retirada do cargueiro e os custos com equipamentos e materiais.
Shoei Kisen, empresa japonesa dona da Ever Given, disse que não recebeu até o momento nenhuma reclamação oficial ou ação legal pelo bloqueio causado pela embarcação, mas reconheceu que está em "negociações" com a autoridade do canal.
Por que o navio encalhou?
As declarações de Osama Rabie surgem no meio de uma investigação que visa obter mais pistas sobre como o Ever Given acabou encalhado na margem do canal.
A causa inicial foi atribuída a ventos fortes, mas agora investigadores devem verificar se houve erros técnicos ou humanos, teoria que é defendida pelo presidente da ACS.
"O canal nunca foi fechado devido ao mau tempo", disse Rabie. Ele também negou que o enorme tamanho do navio fosse a causa, já que "cargueiros ainda maiores" cruzam aquele trecho.
Por ser uma das principais artérias econômicas do mundo - por onde passa mais de 12% do comércio total -, a estagnação do Canal de Suez trouxe uma série de consequências econômicas que acabaram afetando o bolso de milhões de pessoas.
Quase dois milhões de barris de petróleo e cerca de 8% do gás natural liquefeito passam pelo Canal de Suez todos os dias.
Isso teve um forte impacto no preço desses produtos. Além disso, estima-se que mais de 360 embarcações foram paralisadas no canal, entre cargueiros com contêineres e petroleiros.
Quanto custou o bloqueio do Canal de Suez?
Segundo Osama Rabie, o encalhe do cargueiro teve grande impacto nessa rota comercial, custando entre US$ 14 e US $15 milhões (cerca de R$ 80 milhões) a cada dia de bloqueio. O canal é uma importante fonte de receita para o Egito. Até antes da pandemia, o comércio que passava por ali contribuía com 2% do PIB do país segundo a agência de classificação de crédito Moody's.