Quiosques em Tel Aviv estão vendendo livremente uma nova droga sintética apelidada de "mabsuton". A raiz da palavra, mabsut, significa "alegre" em árabe e é largamente utilizada em hebraico, entre os israelenses, como gíria. Apesar de ter efeito bem mais forte do que a maconha, droga em falta no país, e de poder causar problemas de saúde, o "mabsuton" não é considerado ilegal.
De acordo com um israelense que consumiu a substância "mais de uma vez", o efeito da droga durou por cerca de uma hora e meia - bem mais que a maconha. Ele relatou ao Terra que, além dos efeitos psicológicos do "mabsuton", ele teve ainda pressão alta e pulso acelerado. "Senti como se tivesse acabado de correr uma maratona", contou. Ele explicou que fez a medição duas vezes depois de fumar a droga, que recebeu de amigos.
Além de ser vendida livremente, a droga não é cara - um pacote com 5 gramas sai por cerca de 100 shekels (cerca de R$ 47). O valor é baixo quando comparado ao de drogas ilegais, como a maconha ou o haxixe. De acordo com a imprensa israelense, 50 gramas de maconha podem valer mais de 1,7 mil shekels (R$ 820). O haxixe é ainda mais caro: 10 gramas saem por 500 shekels (R$ 235). O valor sofreu um aumento expressivo por conta da baixa oferta de drogas no país. Antes da "seca", 50 gramas de maconha valiam 150 shekels (R$ 70 reais). E 10 gramas de haxixe eram vendidos por 200 shekels (R$ 94).
Chá de ervas, telefone e internet
O "mabsuton" é anunciado nos quiosques como um "chá de ervas aromáticas e naturais" e comercializado em baixas quantidades, em embalagens plásticas. Segundo o usuário que conversou com o Terra, o fato de a maconha estar em falta no país abriu uma oportunidade de mercado para a venda do "mabsuton", que imita a droga inclusive no cheiro. "Mas estou certo de que isso é um veneno", disse, pedindo para não ser identificado.
Na rua Allenby, localizada no sul de Tel Aviv em uma região lotada de bares e discotecas, quiosques vendem a droga sem qualquer disfarce. Neste sábado pela manhã pelo menos quatro desses locais estavam abertos e vendiam o produto, e encontrá-los não foi difícil: cartazes e adesivos anunciavam a venda.
Em um dos locais, na movimentada esquina das ruas Allenby e Ben Yehuda, um sujeito se mostrou avesso à reportagem e acabou contando que, embora a venda da substância não seja ilegal, a polícia já o prendeu "algumas vezes". Mesmo assim, ele garantiu que o quiosque em que estava, apesar de ter vários adesivos do "mabsuton", não vende mais a substância.
Na mesma quadra, um local anunciava uma outra droga, chamada de "Mr. Nice Guy". A funcionária do local disse que 1 grama sai por 50 shekels, o mesmo valor do haxixe. "Mas é bem mais forte que o "mabsuton", garantiu. Apesar de ela ter feito a comparação, a embalagem traz a informação de que a substância deve ser usada apenas em incensos, e que não serve para consumo humano.
Como não há lei para coibir a venda das substâncias, a comercialização também é feita pela internet e pelo telefone, inclusive com serviço de entrega a domicílio. O "Mr. Nice Guy" tem um site e o "mabsuton" é oferecido pelo telefone.
Imitação
Não é a primeira vez que drogas desse tipo são vendidas em Israel. Há cerca de seis anos uma substância apelidada de "chaguigá", hebraico para "comemoração", começou a ser vendida em cápsulas. A "chaguigá" imita a cocaína, podendo ser inalada como o pó ou consumida por via oral. Como o "mabsuton", a "chaguigá" também tem efeito muito mais forte do que a droga original. Mas a venda foi enquadrada na lei de entorpecentes do país como ilegal.
De acordo com um policial israelense que realizava esta semana uma blitze rodoviária próximo a um quiosque que vende "mabsuton", não há nada que a polícia possa fazer para coibir a venda. "Até que a comercialização seja enquadrada na lei, a venda é absolutamente legal", disse, apesar de reconhecer os danos que a nova substância pode causar. Procurada pelo Terra, contudo, a polícia não deu nenhuma declaração oficial a respeito da droga.
De acordo com especialistas, o "mabsuton" pode ser nocivo à saúde. Entre os sintomas registrados em pessoas que disseram ter usado a substância estão sudorese, vômitos, tonturas e convulsões psicóticas.
Recentemente, uma pesquisa realizada anonimamente em Israel revelou que cerca de 47 mil adolescentes admitiram ter usado algum tipo de substância vendida em quiosques no país, apenas no ano passado. Cerca de 3 mil quiosques em Israel comercializam essas substâncias, algumas delas já ilegais, como a "chaguigá".