Dezenas de milhares de pessoas participaram neste domingo (29), em Istambul, do desfile do orgulho gay, com viés claramente político, um ano depois dos protestos contra o primeiro-ministro conservador islâmico Recep Tayyip Erdogan.
Convocados por associações de defesa de lésbicas, gays, bi e transsexuais (LGBT), os manifestantes ocuparam a avenida Istiklal - grande via de pedestres da megalópole turca - e participaram de uma animada passeata de duas horas repleta de bandeiras de arco-íris e sob forte vigilância da polícia.
Como em todos os desfiles do orgulho gay, parte dos manifestantes reivindicou seu direito à diferença. "Ainda não revelei que sou gay, nem ao meu pai nem à minha mãe, nem mesmo aos meus amigos", declarou à AFP uma manifestante, Senef Cakmak.
"Hoje, é a única vez no ano em que sou eu mesma, que não escondo de ninguém, e que posso reivindicar o mais lógico e natural dos direitos", acrescentou.
Ao contrário do que acontece em muitos países muçulmanos, a homossexualidade não é crime na Turquia, mas a homofobia é muito comum, e, às vezes, é expressa de forma violenta.
Em 2010, a ministra da Família e da Mulher, Aliye Selma Kavaf, membro do partido de Erdogan, disse que a homossexualidade era uma "doença" que devia ser "curada", suscitando muitas críticas entre os militantes homossexuais.
Na discussão sobre as minorias sexuais, vários manifestantes criticaram Erdogan, no poder desde 2003.As associações LGBT tiveram destaque nas grandes manifestações de junho de 2013 para denunciar as tendências "autoritárias" e "islamizantes" do chefe de governo turco.
Erdogan prevê anunciar na terça-feira sua candidatura à eleição presidencial de 10 e 24 agosto, na qual é favorito.
Com a vitória na eleição, para um mandato de cinco anos, Erdogan será o dirigente que por mais tempo se manteve no poder desde Mustafa Kemal Atatürk, fundador da República da Turquia em 1923.
O cargo de presidente da Turquia, como definido na Constituição de 1982, é sobretudo simbólico, pois o poder político real se concentra nas mãos do primeiro-ministro.
Erdogan, que falhou em 2013 em sua tentativa de instaurar um regime presidencial, deixou claro que utilizaria todos os poderes ao seu alcance e que seguiria dirigindo o país.