
As mudanças promovidas pelo governo de Donald Trump têm gerado impactos significativos no setor científico dos Estados Unidos, com cortes de financiamento, suspensão de contratos e demissões em massa que ameaçam a liderança global do país em pesquisa e desenvolvimento. Universidades como Harvard, Columbia, Caltech e outras estão enfrentando desafios sem precedentes, com repercussões que podem se estender por anos.
Cortes e suspensões
Harvard suspendeu temporariamente a contratação de professores.
Columbia precisa lidar com cortes de US$ 400 milhões em financiamento federal.
Caltech deixou de preencher posições de pós-doutorado.
Pesquisadores da Universidade de Washington temem pelo futuro de bolsas de pesquisa em clima e saúde após a retirada de um site governamental do ar.
Essas medidas, justificadas como parte de um esforço para "racionalizar o governo", também estão ligadas a alegações de antissemitismo em campi universitários. Embora algumas ações tenham sido contestadas na Justiça e suspensas, outras já interromperam pesquisas ou as deixaram em limbo.
Impacto na ciência e na economia
Especialistas alertam que os cortes podem prejudicar o surgimento de novos talentos na ciência e alterar radicalmente o sistema que mantém os EUA na vanguarda da pesquisa global desde a Segunda Guerra Mundial.
Fiona Harrison, presidente da divisão de física, matemática e astronomia da Caltech, afirma que a situação "está pondo em risco a capacidade de nossa nação de permanecer na vanguarda da ciência e engenharia".
Jeffrey Lazo, economista especializado em serviços de previsão do tempo, destaca que os investimentos federais em áreas como meteorologia geram benefícios econômicos de pelo menos US$ 85 bilhões, mais de 20 vezes o valor gasto pelo governo.
Consequências práticas
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) reduziu a coleta de dados básicos em três escritórios locais de previsão, com um deles, em Kotzebue, Alasca, interrompendo completamente o lançamento de balões meteorológicos.
Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) anunciaram cortes de 15% nos custos indiretos de bolsas, afetando pesquisadores como Alexandra Tate, da Universidade de Chicago, que tem duas propostas de bolsas no valor de US$ 650 mil em suspenso.
A Administração de Seguro Social (SSA) cancelou uma bolsa plurianual de mais de US$ 70 milhões, resultando na dispensa de pesquisadores seniores e impactando mais de 50 pessoas na Universidade de Wisconsin-Madison.
Reações das universidades
Harvard, Stanford, Universidade da Pensilvânia e MIT congelaram contratações.
A Universidade Johns Hopkins anunciou cortes de mais de 2.000 postos após perder subsídios da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
A Universidade da Virgínia Ocidental limitou a admissão em programas de doutorado em ciências da saúde, enquanto a Universidade Estadual de Iowa revogou ofertas a estudantes de pós-graduação.
Concorrência internacional
Enquanto os EUA enfrentam incertezas, outros países buscam atrair talentos científicos americanos. Universidades francesas e a China têm se posicionado como alternativas seguras para pesquisadores.
Zoe Lofgren, democrata no Comitê de Ciência da Câmara, alerta que a China já está contratando cientistas demitidos nos EUA.
Shirley Tilghman, ex-presidente da Universidade de Princeton, afirma que seria "extremamente tolo" abrir mão da preeminência dos EUA na pesquisa científica.