Nesta terça-feira (16) a Coreia do Norte explodiu o escritório conjunto de coordenação de relações com a Coreia do Sul, na cidade fronteiriça de Kaesong, informou o ministério da Unificação. Ação de Pyongyang, que é muito simbólica, eleva a tensão na península em um momento em que as negociações sobre o programa nuclear estão paralisadas.
O ministério da Unificação, que trata das relações entre as duas Coreias, informou que a explosão do escritório de Kaesong ocorreu às 14h49 no horário local (2h49 em Brasília). Pouco antes, a agência de imprensa sul-coreana Yonhap tinha relatado uma explosão no complexo industrial onde o escritório está localizado.
O escritório de ligação inter-coreano foi inaugurado em 2018 como parte de uma série de projetos que visam reduzir as tensões entre as duas Coreias. O imóvel dispunha de escritórios separados para o Norte e o Sul, assim como uma sala de conferências comum.
O complexo, onde trabalhariam ao menos 20 representantes de cada país, permanecia aberto as 24 horas do dia, durante todo o ano. Porém, estava fechado desde janeiro por causa da pandemia de Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
O escritório, que teria sido construído com dinheiro sul-coreano, foi a primeira estrutura desse tipo desde a divisão das duas Coreias em 1945. A iniciativa é considerada um símbolo da política de envolvimento do presidente sul-coreano, Moon Jae-in.
Aumento na tensão
A agência oficial de notícias da Coreia do Norte afirmou que o país destruiu o escritório em uma "explosão terrível", porque seu "povo enfurecido" estava determinado a forçar aqueles que abrigaram a "escória humana" a pagar caro por seus crimes. Aparentemente, a mensagem faz referência a desertores norte-coreanos que, durante anos, lançaram panfletos fazendo críticas contra Pyongyang.
Os panfletos, lançados com balões na direção do território norte-coreano ou dentro de garrafas enviadas pelo rio que estabelece a fronteira, contêm críticas a Kim Jong-un na área dos direitos humanos ou por seu programa nuclear.
Desde o início do mês, Pyongyang intensifica os ataques verbais contra Seul, sobretudo contra os desertores norte-coreanos, ameaçando tomar medidas de retaliação sobre os folhetos. Na semana passada, o regime norte-coreano anunciou o fechamento dos canais de comunicação polícia e militar com o "inimigo" sul-coreano.
No sábado (13), a mídia estatal norte-coreana informou que Kim Yo Jong, irmã de Kim, que é a principal autoridade do Partido dos Trabalhadores no poder, havia ordenado que o departamento encarregado dos assuntos inter-coreanos "realizasse de maneira decisiva a próxima ação", e que "em pouco tempo, seria vista uma cena trágica do inútil escritório de ligação conjunta norte-sul".
O presidente sul-coreano Moon Jae-in e o líder da Coreia do Norte Kim Jong-un dão um aperto de mão durante encontro em Panmunjom, dentro zona desmilitarizada que separa os dois países — Foto: Korea Summit Press Pool/via Reuters
O Norte ameaçou abandonar um acordo bilateral de redução de tensão de 2018, que, segundo observadores, poderia permitir que o Norte desencadeasse confrontos nas fronteiras terrestres e marítimas, segundo a Associated Press.
Na segunda-feira, Moon fez um apelo à Coreia do Norte para que parasse com as animosidades e retornasse às negociações, dizendo que as duas Coreias não devem reverter os acordos de paz que Kim Jong-un e ele chegaram durante as cúpulas de 2018.
Negociações de paz
Em 12 de junho de 2018, Kim Jong-un encontrou-se com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Singapura, e se comprometeu em desmontar o seu programa nuclear. O documento final em que a Kim se engajava com o fim da produção de armas nucleares e a desnuclearização completa da península coreana, porém, não contava com metas ou cronograma para que isso acontecesse.
O compromisso com o desmonte do programa nuclear já consta na Declaração de Panmunjon, assinada após o encontro de líderes das duas Coreias, em abril de 2018.
Pyongyang tenta condicionar o desmantelamento do seu programa nuclear em troca do relaxamento das sanções econômicas impostas pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que atingem duramente a economia local.