Conflito na Tailândia vai continuar, diz especialista

Chegou a 84 o número de pessoas que morreram e a 1,8 mil o de feridos desde o início de protestos, em meados de março.

Conflito na Tailândia. | Divulgação
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Para Angelo Segrillo, professor de história contemporânea da Ásia, apesar de o governo tailandês ter dispersado os manifestantes "camisas vermelhas" do centro comercial da capital Bangcoc, o conflito está longe de encontrar solução definitiva:

- A sociedade está dividida. O "grosso" do problema está resolvido, mas as condições dadas são as mesmas, o conflito vai continuar.

A cidade de Bangcoc, palco dos enfrentamentos entre os "camisas vermelhas" e as forças de segurança tailandesas, começou nesta sexta-feira, 21, a voltar à normalidade. Ainda assim, a capital e outras três províncias permanecem, até o próximo domingo, sob o toque de recolher.

Chegou a 84 o número de pessoas que morreram e a 1,8 mil o de feridos desde o início dos protestos, em meados de março. O conflito expõe as profundas desigualdades entre as classes pobres, de origem rural, e a elite da capital - o país tem uma das distribuições de renda mais desiguais da Ásia, segundo o Banco Mundial.

Segrillo, que é coordenador e professor do Núcleo de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP), explicou a Terra Magazine as origens dos impasses sociais e políticos da Tailândia.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - O confronto na Tailândia durou dois meses, mas suas origens são de 2006...

Angelo Segrillo - O conflito está ocorrendo desde 2006, em grande parte, devido à deposição do líder Thaksin Shinawatra, que foi muito popular e estava lá desde 2001. A política na Tailândia foi sempre muito elitista, nunca houve uma real democracia no país, há coisas parecidas com a democracia, mas sempre permeada por ameaças de golpes ou golpes de fato. E quando esse Thaksin Shinawatra chegou ao poder, foi a primeira vez que chegou um político que agia para as classes populares, especialmente as rurais.

Você pode dar um exemplo dessas ações?

Na Tailândia, não havia seguro saúde para as classes rurais, em três anos ele implantou um seguro saúde universal. Imagina a traquilidade que só isso dá pra essa gente? Além disso, fez vários programas de transferência de renda. O nível de pobreza absoluta caiu pela metade em cinco anos.

Por que esse líder foi deposto?

Acusam principalmente de corrupção, mas é aquela coisa... Como no Brasil, todos os partidos são corruptos, todos os partidos têm caixa dois, isso é segredo de polichinelo.

Ele foi deposto pelos militares?

Pelo exército, em 2006. Lá há uma forte divisão de classes, as classes mais altas estão com o atual primeiro-ministro e as classes mais baixas com o líder deposto. Há uma divisão entre cidade e campo também, a elite de Bangcoc também está com o líder deposto e a classe média está dividida porque eles sentiram o impacto dos programas de transferência de renda. E, desde a deposição, a situação não está bem resolvida.

O que querem os "camisas vermelhas"?

Eles querem uma eleição e o primeiro-ministro não dá de jeito nenhum porque sabe que não ganha.

Por que a situação se agravou agora se ela já existe desde 2006?

Quando em 2006, o partido do Thaksin Shinawatra, chamado "Tailandeses amam tailandeses", foi dissolvido e, nas primeiras eleições depois do golpe, os seus seguidores políticos foram novamente eleitos. Os dois próximos primeiros-ministros eram partidários dele. De 2006 até 2008, quando houve esse novo golpe...

Novo golpe?

Sim, para derrubar o segundo primeiro-ministro depois do Thaksin, e aí entrou o atual primeiro-ministro (Abhisit Vejjajiva). E esse não é partidário do líder deposto. E, desde 2008, a situação está caótica e estourou agora, a última gota no balde foi o fim do julgamento do que seria feito com os bens do Thaksin, que serão expropriados.

A situação está começando a se normalizar, mas o impasse na sociedade tailandesa está de fato solucionado?

A sociedade está dividida. O "grosso" do problema está resolvido, mas as condições dadas são as mesmas, o conflito vai continuar porque o país segue dividido.

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