O vice-presidente da Venezuela, Elias Jaua, conclamou os simpatizantes do governo a mostrar "unidade" e "disciplina socialista", e disse que a direção do país continuará atuando "sem fraturas" mesmo após o presidente Hugo Chávez admitir que sofre de câncer.
"Com otimismo e esperança do presidente temos que, povo e governo, continuar avançando", afirmou Jaua, durante uma transmissão feita no Palácio de governo. "Exortamos todos os poderes públicos a unir-se na consolidação do Estado democrático", afirmou o vice-presidente, acompanhado da maioria do gabinete.
Homem de confiança de Chávez, que está à frente do governo desde que o presidente adoeceu, Jaua disse que "não é tempo para recuar" e "nem para tristeza". "Unidade é o que precisamos nesse momento", acrescentou. Jaua afirmou que, apesar da ausência de Chávez, o governo "aprofundará" as reformas da revolução bolivariana.
Em cadeia nacional de rádio e TV, Chávez admitiu na noite da quinta-feira que foi submetido a uma segunda cirurgia para retirar um tumor cancerígeno na região pélvica. O líder cubano, Fidel Castro, foi quem lhe deu a notícia.
"Fidel Castro em pessoa, o mesmo do quartel Moncada, o mesmo do (barco) Granma, o mesmo da Sierra Maestra, o gigante de sempre, veio me anunciar a dura notícia da descoberta cancerígena", relatou Chávez, durante pronunciamento à população.
Respeito
O governo pediu à oposição "respeito" à saúde do presidente. Em mensagens no Twitter, analistas políticos ligados à oposição pediram moderação aos políticos antichavistas.
O governador opositor do estado de Zulia disse "lamentar a difícil condição de saúde pela qual atravessa o Presidente", escreveu Perez em seu perfil. Os demais representantes da oposição ainda não se pronunciaram.
Para o diretor do Instituto Datanalisis, Luis Vicente León, "as declarações de Chávez são tão importantes que não é possível antecipar seu impacto até que seja absorvida".
Apesar dos rumores que antecipavam a notícia do câncer de Chávez, os venezuelanos reagiram com surpresa e preocupação ao anúncio feito pelo "comandante". O jornaleiro Pedro Contreras, que acompanhou o discurso, disse "ainda ter dúvidas". "Não sei, meu coração me diz que alguma coisa mais está acontecendo. É uma situação perigosa. Hoje à noite não vou dormir, estou vigilante", afirmou à BBC Brasil.
Respeito
Mensagens de simpatizantes do governo publicadas em redes sociais como Twitter e Facebook convocaram à radicalização do processo político venezuelano para garantir a continuidade da revolução.
Um grupo de seguidores do presidente tomou a Praça Bolívar, no centro de Caracas, em demonstração de apoio ao mandatário. Uma frenética cadeia de mensagens de texto em celulares convoca manifestações de solidariedade para esta sexta-feira.
Durante visita à Cuba, Chávez teve de ser submetido a uma cirurgia de emergência para drenar uma abscesso pélvico que poderia ter ocasionado infecção generalizada, caso não fosse retirado.
Depois dessa primeira intervenção, a equipe médica cubana realizou uma série de exames no líder venezuelano, cujos resultados apontaram a presença de um tumor na região pélvica.
Chávez foi submetido a uma segunda cirurgia e deve permanecer em tratamento intensivo para bloquear a expansão das células cancerígenas para outros órgãos. Uma fonte do governo afirmou à BBC Brasil que o presidente está sendo recebendo sessões de radioterapia. O líder venezuelano não estipulou uma data para retornar ao país.
A doença de Chávez projeta uma série de dúvidas sobre o futuro da revolução bolivariana e da candidatura à presidência em 2012, para a qual o líder venezuelano se apresentou, antecipadamente, como candidato à reeleição. Ele está no poder há doze anos.
Até agora, não há no campo aliado nem opositor um nome que reúna o carisma e a popularidade imbatível de Chávez.