A China iniciou nesta segunda-feira o seu Censo-2010, um exercício que servirá de base para as políticas públicas na próxima década no país mais populoso do mundo, mas que deve enfrentar resistência de parte da população, relutante em ter contato com as autoridades.
Das fervilhantes metrópoles litorâneas até as remotas montanhas do Tibet, 6 milhões de recenseadores terão a missão de visitar cerca de 400 milhões de moradias ao longo de dez dias.
"O Censo é a base para a formulação de políticas para educação, saúde, emprego e auxílio e bem estar social", disse editorial do Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista Chinês. "Esta é a maior mobilização social em tempos pacíficos."
A atividade custará cerca de 700 milhões de yuans (104,9 milhões de dólares), e 90 por cento dos entrevistados responderão 18 perguntas, sobre assuntos como nível educacional e origem étnica, segundo a imprensa oficial. Os resultados devem ser divulgados em abril.
Pela primeira vez, a China contabilizará a população com base no seu local de residência, e não de registro domiciliar (um sistema chamado "hukou"). Isso ajudará o governo a mensurar o grau de urbanização do país, e também a contabilizar crianças que não haviam sido registradas por se enquadrarem fora da "política do filho único".
Os recenseadores devem enfrentar grandes dificuldades, num país onde muita gente suspeita das autoridades, e onde há uma grande população migrante, com horários irregulares de trabalho e vivendo em acomodações temporárias.
Por isso, segundo o serviço noticioso Beijing News, os recenseadores poderão chamar a polícia diante de recusas reiteradas em responder. Por toda Pequim, cartazes verdes ? e não vermelhos, como habitualmente ? conclamam a população a participar. Pelo celular, as pessoas recebem mensagens de texto orientando-as a "cooperar de acordo com a lei."
O governo tenta convencer a população de que as informações serão confidenciais, mas as suspeitas são grandes.
"O que vocês estão procurando está tudo escrito nos livros de registros domiciliares, então vão lá verificar. Não há necessidade alguma de fazer um Censo", escreveu um usuário no site imobiliário chinês www.anjia.com. "Quem ousa dizer a verdade a um governo que carece de credibilidade pública e tem má reputação?"
Pela Internet, circulam dicas sobre como evitar os recenseadores ? por exemplo, a pessoa pode se dizer ocupada e marcar outra hora para a volta do funcionário.
No último Censo, em 2000, a China contou 1,295 bilhão de habitantes, sendo 64 por cento deles rurais ? embora desde uma década antes já houvesse um forte êxodo para as cidades e para as zonas industriais litorâneas.