Omar Mateen, o extremista que matou 49 pessoas numa boate gay em Orlando, ameaçou colocar cinturões com explosivos nos reféns e detonar um carro no estacionamento. Segundo o FBI (a polícia federal americana), que liberou nesta segunda-feira trechos das gravações feitas durante as negociações, Mateen se mostrou calmo e desafiador, e prometeu que novas ações semelhantes ocorreriam nos dias seguintes.
As gravações permitem estabelecer a ordem dos acontecimentos e foram usadas pela polícia para rebater críticas de que teria demorado a agir. A primeira ligação ocorreu às 2h35m (hora local), 30 minutos depois de agentes receberem denúncias de tiros na boate. Mateen falou em árabe e citou "Deus, o misericordioso":
— Eu estou em Orlando. Eu dei os tiros — disse o homem, que momentos antes havia jurado lealdade ao Estado Islâmico.
Dez minutos depois, um grupo de negociadores começou a conversar com ele. Entre 2h48m e 3h24m, policiais falaram por três vezes com Mateen, num total de 28 minutos. O extremista já estava com reféns quando telefonou e postou mensagens na internet. Ele disse estar com um carro cheio de explosivos no estacionamento e vestir um colete "do tipo usado na França". No entanto, explosivos não foram encontrados após a invasão.
— Vocês vão ver, vou detoná-los se tentarem fazer qualquer coisa estúpida — disse Mateen. — Nos próximos dias, vocês verão mais ações como esta — disse, desligando em seguida.
De acordo com as comunicações por rádio, não houve disparos entre o tiroteio inicial e a invasão da boate três horas depois.
Às 4h21m, a polícia retirou um aparelho de ar condicionado, permitindo que algumas pessoas escapassem. Segundo os frequentadores que fugiram, Mateen disse que colocaria quatro cinturões com explosivos nos reféns. Foi então tomada a decisão de invadir o local.
A polícia conseguiu abrir um buraco na parede às 5h02m, resgatando várias pessoas, antes de Mateen aparecer armado com uma pistola 9mm e um fuzil, atirando. Ele foi morto às 5h15m, de acordo com o FBI. Além dos 49 mortos, 53 pessoas ficaram feridas na boate Pulse.
De acordo com o FBI, ele se identificou nas gravações como "um soldado islâmico" e disse que os Estados Unidos deveriam parar de bombardear Síria e Iraque. Mas não há indícios de que a ordem para o ataque à casa noturna gay tenha vindo de fora.
— Quando o negociador perguntou ao atirador o que ele tinha feito, ele respondeu: "Não, você já sabe o que eu fiz."
Mateen, que tinha 29 anos, nasceu em Nova York, numa família afegã, e morava na Flórida. Ele trabalhava como segurança e aparentemente se radicalizou pela internet.
— Nós salvamos muitas, muitas vidas — disse John Mina, chefe da polícia de Orlando, respondendo a críticas de que os agentes não teriam feito nada por três horas.
Mais de 500 pessoas já foram ouvidas e 600 peças de provas foram coletadas, segundo os policiais.