Uma artista grafiteira intriga os parisienses desde 2006, pintando, às escondidas, véus sobre personagens de painéis publicitários no metrô da capital francesa.
Com uma caneta preta, a artista, conhecida como Princess Hijab (princesa Hijab - um dos véus do mundo islâmico) cobre o rosto e parte do corpo de modelos femininos e masculinos em anúncios, deixando apenas os olhos a vista.
"Eu me aproprio de símbolos, no caso, a publicidade e o véu. Com isso, construo a minha alegoria. É um pouco como um ritual, uma performance urbana", explica a artista, em entrevista à BBC Brasil.
"No início, eu ficava esperando para ver a reação das pessoas. Algumas se chocavam, outras se espantavam ou ficavam intrigadas com aquilo", conta a artista de rua.
Sexo?
Princess Hijab cultiva um certo mistério sobre sua identidade e recusa-se, inclusive, a dizer se é homem ou mulher.
No encontro com a reportagem da BBC Brasil, ela vestia um casaco de moletom e cobria a cabeça um capuz, escondendo o rosto por trás de longas mechas de cabelo comprados em salões de beleza afros da capital.
Sua voz é feminina, mas as mãos e os braços pouco delicados aumentam as dúvidas sobre seu sexo, que ela prefere não revelar.
A artista explica que a ideia de "niqabizar" (niqab é o véu que deixa apenas os olhos de fora) modelos em anúncios no metrô surgiu em 2006, quando trabalhava com moda. "Eu já fazia roupas que cobriam todo o corpo. Era um pouco como uma burca, mas bem colada ao corpo", conta.
"Paris é a capital da moda. É um ato forte fazer isso aqui", resume Princess Hijab.
Islamismo
O véu islâmico foi protagonista de um grande debate no país que resultou na sua proibição. Para vários políticos franceses, o uso do véu contraria princípios "republicanos" e os valores de laicidade do país.
A proibição, em setembro deste ano, do uso do véu islâmico cobrindo todo o rosto em lugares públicos do país, causou protestos em parte da comunidade muçulmana e tem sido utilizada por militantes islâmicos como motivo de ameaças de atos extremistas contra o território francês.
Princess Hijab admite que seu trabalho "causou um pouco de incômodo no início e poucas pessoas queriam falar dele".
Ela prefere se manter à margem do debate e se recusa, inclusive, a responder se é muçulmana.
"Eu me posiciono como artista. Nunca pretendi ser a bandeira de uma comunidade", conclui.