Amigos do estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, de 21 anos, morto pela polícia de Sydney, na Austrália, utilizam as redes sociais para marcar um protesto no dia 30 de março. A manifestação será em frente ao Consulado Geral da Austrália em São Paulo, na Alameda Santos, região dos Jardins, em São Paulo. A ideia é que todos deixem um pacote de biscoitos na porta do consulado.
O jovem foi morto na manhã do domingo (18) depois de sofrer vários choques de taser, uma arma paralisante usada pela polícia de Sydney. Na convocação do protesto, os amigos dizem que ele ?não precisava pegar e tão pouco roubar e todos nós sabemos disso?. ?Já que foi morto por um pacote de biscoitos, devolveremos o quanto podermos de pacotes de biscoitos para este país de 1º mundo que se chama Austrália?, completa a convocação. Até as 13h45 desta terça-feira (20), havia quase 8,7 mil convidados para a manifestação.
Caso
A morte de Curti ocorreu depois de um furto de um pacote de biscoitos em uma loja de conveniência. As imagens de uma câmera de segurança divulgadas pelo jornal australiano "Sydney Morning Herald" mostram uma pessoa sendo perseguida por seis policiais. Um dos agentes saca uma arma e mira. Amigos de Roberto disseram ao Consulado-Geral do Brasil em Sydney que o rapaz que aparece correndo no vídeo é diferente do brasileiro.
A vendedora da loja de conveniência deu pistas importantes. Contou que o rapaz parecia perturbado e conversou bastante com ela. Disse que o mundo iria acabar, depois pegou um pacote de biscoitos e saiu correndo. E ela deu outra informação importante: o rapaz estava sem camisa. Já os jornais de Sydney de segunda-feira (19) dizem que Roberto vestia uma camisa branca de manga curta.
Família
A madrinha do estudante disse nesta terça-feira (20) que o jovem era ?amoroso, carinhoso e de boa índole?. ?Ele era um menino maravilhoso?, afirmou Patrícia Laudisio, que é casada com o tio do brasileiro. Familiares do jovem viajaram para a Austrália para obter mais detalhes sobre o que aconteceu. ?Esse caso vai ser apurado pela polícia, por isso não gostaria de falar nada sobre isso antes?, disse a tia.
As circunstâncias da morte ainda estão sendo apuradas, mas a tia descarta qualquer possibilidade de o jovem ter levado um pacote de biscoito de uma loja de conveniência. ?Em hipótese nenhuma, ele era de classe privilegiada.?
O brasileiro foi para a Austrália em junho do ano passado para estudar inglês. O rapaz tinha trancado o curso de administração na PUC de São Paulo para fazer a viagem. Roberto morava com uma irmã e o cunhado na Austrália. Na capital paulista, ele vivia com a família em Higienópolis. Curti era órfão de pai e mãe, que morreram quando ele ainda era criança. ?Ele morava no mesmo prédio com minha sogra, estava todo mundo sempre junto, os tios, as irmãs dele?, contou Patrícia.
O jovem estudou no Colégio Santo Américo, na Zona Sul de São Paulo, e adorava jogar futebol no Club Athletico Paulistano, na região dos Jardins, segundo informações da tia. ?Ele foi [para a Austrália] com a intenção de aprender o melhor inglês. Tinha um futuro brilhante pela frente, que foi interrompido?, lamentou a madrinha. ?Ele era uma pessoa responsável e tinha todo o apoio nosso.?
Itamaraty
O Ministério de Relações Exteriores divulgou nota sobre o caso, no início da tarde desta terça-feira:
"O Governo brasileiro deplora a notícia da morte de cidadão brasileiro em circunstâncias ainda não esclarecidas durante operação policial em Sydney, na Austrália.
O Consulado-Geral do Brasil em Sydney e a Embaixada do Brasil em Camberra foram instruídos a prestar toda a solidariedade e apoio à família da vítima, bem como a solicitar os devidos esclarecimentos às autoridades australianas a respeito do ocorrido.
O Ministério das Relações Exteriores manifesta suas condolências à família do brasileiro morto e reafirma sua confiança de que as autoridades australianas conduzirão as investigações com o rigor necessário."