A ONU diz que a guerra no Iêmen resultou em níveis chocantes de sofrimento e causou o pior desastre humanitário do mundo.
O conflito já produziu 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates.
Quatro milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas e mais de 20,7 milhões (71% da população do país) precisam de alguma forma de assistência humanitária ou proteção para sua sobrevivência.
Segundo a ONU, 5 milhões de iemenitas estão à beira da fome e quase 50 mil já estão passando por condições semelhantes à fome. Estima-se que 2,3 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda, incluindo 400 mil que correm o risco de morrer sem tratamento, segundo a ONU.
Com apenas metade das 3,5 mil instalações médicas do país em pleno funcionamento e 20% dos distritos sem médicos, quase 20 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados de saúde adequados. Uma em cada duas pessoas também não tem acesso a água potável.
O conflito tem suas raízes no fracasso de um processo político que deveria trazer estabilidade ao Iêmen após a Revolução Iemenita de 2011 - que foi parte da Primavera Árabe - que forçou o presidente autoritário de longa data, Ali Abdullah Saleh, a entregar o poder a seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.
Como presidente, Hadi lutou contra diversos problemas, incluindo ataques de jihadistas, um movimento separatista no sul, a lealdade contínua do pessoal de segurança a Saleh, além de corrupção, desemprego e insegurança alimentar.
O movimento Houthi - conhecido formalmente como Ansar Allah (Partidários de Deus) - aproveitou-se da fraqueza do novo presidente.
Os houthis, que defendem a minoria muçulmana xiita Zaidi do Iêmen e combateram uma série de rebeliões contra Saleh durante a década anterior, tomaram o controle de sua região central do norte da província de Saada no início de 2014 e começaram a avançar para o sul. Desiludidos com o governo, muitos iemenitas comuns - incluindo sunitas - os apoiaram e no final de 2014 os rebeldes começaram a tomar a capital, Sanaa.
O que acontece no Iêmen pode exacerbar muito as tensões regionais. Também preocupa o Ocidente por causa da ameaça de ataques - como da Al-Qaeda ou de afiliadas do Estado Islâmico - que emanam do país à medida que se torna mais instável.
Os houthis e as forças de segurança leais a Saleh - que supostamente apoiaram seus antigos inimigos em uma tentativa de recuperar o poder - tentaram assumir o controle de todo o país, forçando Hadi a fugir para o exterior em março de 2015.
Outros países da região - as potências regionais rivais Irã e Arábia Saudita - se envolveram no conflito. Alarmados com a ascensão de um grupo que eles acreditavam ser apoiado militarmente pelo poder regional xiita e rival Irã, Arábia Saudita e outros oito Estados árabes majoritariamente sunitas começaram uma campanha aérea com o objetivo de derrotar os houthis, acabar com a influência iraniana no Iêmen e restaurar o governo de Hadi.
A coalizão recebeu apoio logístico e de inteligência dos EUA, Reino Unido e França. Analistas esperavam que a guerra durasse poucas semanas, mas ela já se arrasta há oito anos, e nos últimos anos houve um escalonamento da violência.