Infecções podem ter causas múltiplas

As bactérias, que vivem em praticamente todos os lugares, podem ter uma convivência pacífica com os seres humanos, mas podem ser maléficos, o que depende da reação imunológica.

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Já reparou como uma gripe parece muito com uma amigdalite no início dos primeiros sintomas? Ou que aquela dengue contraída no mês passado apresentou sintomas similares a uma doença mais grave, como a meningite, por exemplo. Casos assim mostram como a medicina tem encontrado dificuldade e identificar qual o fato patogênico de determinadas doenças. 

Crédito: Reprodução/Internet

Tudo é virose? Antibiótico para eliminar bactérias? Terá sido um artrópode? Os questionamentos são muitos, e levam a uma medicina ainda mais atenciosa para especificar o que causa determinado problema no organismo humano. A verdade é que uma mesma doença pode ter várias causas.

É o que explica Carlos Nery Costa, um dos mais respeitados médicos infectologistas do Piauí. “Nós partilhamos o mundo com os microorganismos. Alguns são patogênicos e podem invadir nosso organismo. Desde seres não-vivos no sentido clássico da palavra, como os pryons e agentes com DNA que se replicam na natureza, deixando cópias similares. Assim são vírus, fungos, bactérias, protozoários, helmintos e até mesmo artrópodes, como alguns parasitas de pele”, revela.

As bactérias, que vivem em praticamente todos os lugares, podem ter uma convivência pacífica com os seres humanos. “Vivemos em um mundo que as bactérias vivem nos nossos intestinos. Elas são essenciais porque sintetizam certas vitaminas. Podemos, então, ter uma relação simbiótica, com vantagem para ambos”, acrescenta o médico.

Mas nem tudo são flores. Os microorganismos também podem ser maléficos à fisiologia humana. “Também podem ter uma relação parasítica, no sentido que os microorganismos sobrevivem a nosso troco, sem vantagem para nós, seres humanos. Nesse caso, dependendo do microorganismo, ele possui fatores de virulência, invadindo e lesando tecidos, além de exagerar na resposta do hospedeiro. Às vezes a reação imunológica que leva à doença. O microorganismo começa e o organismo termina”, aponta Carlos Henrique Nery.

Em todos os lugares e em todas as pessoas

Os micro-organismos podem viver conosco. Eles estão presentes na água que bebemos, na cama onde dormimos e até mesmo nos nossos dedos.  Alguns cuidados devem ser tomados para evitar as invasões ao sistema imunológico humano. 

Nossa pele, garganta, ouvidos e demais parte do corpo estão recobertas de bactérias. “Estamos imersos em microorganismos que invadem a gente. O importante é estar longe das que nos fazem mal, e para isso é preciso higiene e saneamento básico. Pela água vem hepatite, cólera, diarreia. Pode vir pelas mãos como muitas infecções bacterianas, então é bom lavar sempre as mãos. Pode vir em relações sexuais, como o HIV, pelo não uso do preservativo. Pelo ar como sarampo e a influenza”, enumera Carlos Henrique Nery, médico infectologista | Crédito: Gabriel PaulinoCarlos Henrique Nery, médico infectologista. (L.A.)

Superbactérias nascidas em hospitais

O médico enfatiza que a medicina moderna agravou bastante no problema de infecções. “A medicina invasiva, principalmente as UTIs. As infecções hospitalares são muito resistentes a antibióticos. Por isso tem uma legislação que proíbe o uso de antibióticos sem prescrição médica. Às vezes o próprio médico é coagido a prescrever antibiótico. É um problema porque as famílias não têm paciência de observar as crianças, que ficam sozinhas. Qualquer febre levam para hospitais, o que levam à persistência de infecções”, aponta Carlos Henrique Nery.

O infectologista ressalta que é preciso evitar remédios sem necessidade. “Amigdalite, meningite, diarreia. Muitas doenças são provocadas por vários fatores e fica difícil para o médico identificar o que causou aquilo à primeira vista. Então prescrevem antibióticos sem necessidade, aumentando a resistência das bactérias. Existem bactérias de tuberculose com letalidade altíssima pelo uso incompleto ou indiscriminado de antibióticos”, aponta.

Os sintomas da fase inicial de uma agressão infecciosa parecem muito. “Uma dengue pode parecer muito com uma meningite. É preciso observação para saber se é uma infecção benigna ou grave. Exames de sangue ajudam bastante, como o hemograma, que é um exame inespecífico. Mas tem exames específicos de secreção ou pus para ter uma ideia de qual é a bactéria. Exames de cultura e técnicas moleculares também indicam o causador da infecção. Para meningite, fazemos testes de aglutinação que identificam os microorganismos. Temos testes rápidos de hepatite, HIV, sífilis e em alguns minutos identificamos o agente”, exemplifica o médico. (L.A.)

Todas as infecções são consideradas graves

As doenças infecciosas correspondem a enfermidades causadas por várias etiologias como vírus, bactérias, fungos e parasitas. Todas elas são graves. O que difere a gravidade delas, muitas vezes, é o status de imunossupressão dos pacientes, pois hoje, na comunidade, há uma parcela importante de pacientes que têm a imunidade comprometida, os chamados imunossuprimidos. “Como aqueles com Aids, transplantados ou mesmo aqueles que usam corticoide cronicamente”, aponta Sebastião Filho, médico infectologista piauiense da Faculdade de Medicina de Botucatu.

Os chamados imunossuprimidos são mais suscetíveis a doenças consideradas “simples”. “Algumas deficiências de imunidade são possíveis de diagnosticar, mas algumas outras não o que pode justificar alguns pacientes fazerem infecções mais graves relacionadas a algumas doenças. Há alguns destaques para alguns vírus que potencialmente causam doenças mais graves, como os pertencentes da família herpes vírus. Dentre as bactérias, algumas delas como a Neisseria meningitidis [meningococo] e o Streptococcus são mais comuns”, acrescenta Sebastião.

Meningite: doença pode ter vários fatores patológicos

No caso da meningite, aquelas de etiologia viral, bacteriana e fúngica, a maioria tem tratamento e tem cura. “O mais importante é procurar o serviço médico o mais rápido possível assim que se reconhecerem os sintomas que são: febre, vômito, dor de cabeça de forte intensidade, náuseas. O exame confirmatório de meningite se dá através da punção lombar onde é realizada a análise do liquor. Trata-se de um procedimento médico, feito em ambiente intra-hospitalar e na maioria das vezes com resultados imediatos, com rápida identificação do germe”, explica o infectologista Sebastião Filho.

O tratamento pode ser feito com antibiótico ou antiviral a depender do agente, mas sempre em regime hospitalar. “Um paciente com meningite pode ter meningites outras vezes, caso ele seja contaminado por outro agente. Por exemplo, caso ele manifeste uma meningite por vírus, ele pode ter uma meningite por bactéria futuramente. Não é comum isso acontecer, exceto se o paciente tiver alguma alteração na imunidade”, completa o médico.

Existe vacina para determinados tipos de meningite, em especial o meningococo. “É sempre importante conversar com um Infectologista sobre as vacinas disponíveis , quem pode tomar, onde encontrar o imunobiológico que muitas vezes pode ser adquirida gratuitamente. É sempre importante saber que , as doenças existem , são graves e podem deixar sequelas se não diagnosticadas e tratadas corretamente , na manifestação dos sintomas, faz-se necessário sempre procurar o pronto atendimento mais próximo para esclarecer os sintomas e ser tratada adequadamente”, finaliza. (L.A.)

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