O Cria – Grupo de Apoio à Adoção desenvolve uma série de atividades com crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados e foram vítimas de abandono, abuso sexual, negligências, que geralmente são somados à dependência química dos pais. A instituição já atendeu mais de 50 crianças ao longo dos quase 6 anos de existência.
Atualmente, assiste sete crianças que participam do programa Família Acolhedora e acompanha crianças que já passaram pelo projeto.
A diretora voluntária do Cria, Maria Francimélia Nogueira, afirma que o grupo tem por finalidade promover um elo entre as instituições de acolhimento e as pessoas pretendentes a adoção ou as que querem participar do Família Acolhedora ou Apadrinhamento Afetivo.
A entidade se mantém através de colaboradores voluntários, vendas do bazar permanente da instituição, vendas de camisetas e eventos. Tem parceria do Governo do Estado que concede a casa onde funciona o centro que também custeia outros gastos.
“O principal objetivo do Cria é a desinstitucionalização, que consiste na retirada de crianças das instituições de acolhimento. Nós temos no Piauí cerca de 300 crianças acolhidas em abrigos e estão lá por medidas de proteção.
Acontece que elas passam muito tempo nesses lugares, muito mais do que recomenda o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), que seria no máximo por dois anos.
Então, já que elas têm que ficar afastadas das famílias, que seja no espaço de uma outra família, com toda privacidade, com a afetividade sendo suprida.
O próprio ECA diz que o acolhimento familiar tem prioridade ao acolhimento institucional. Neste, que é um acolhimento provisório, a família consegue uma guarda e é capacitada e acompanhada por uma equipe técnica de psicólogos e assistentes sociais, para garantir que aquela criança esteja em segurança até que a Justiça resolva a sua questão. Ela vai definir se esse menor será destituído do poder familiar e se essa criança vai para adoção.Mas esse trâmite geralmente é bem demorado”, declarou Francimélia.
A diretora conta que é feito um trabalho junto à família para ressocializar a criança no seio familiar, pois essa é a prioridade: buscar identificar se os familiares podem receber aquela criança de volta.
Porém, quando a equipe técnica não encontra nenhum familiar que possa e queira receber, em segurança, o menor, a equipe sugere a destituição familiar. Pela lei, depois que se sugere a destituição, o processo deve ser concluído em 120 dias.
Contudo, isso não acontece e nesse período a criança fica com uma família que não necessariamente vai ficar com ela, pois está apenas acolhendo provisoriamente.
O programa ‘’Família Acolhedora’’ é o carro-chefe do Cria, justamente porque essas crianças e adolescentes que ainda não estão aptos para serem adotados são acolhidos de forma subsidiada ou voluntária através de guarda provisória para famílias que possam recebê-las.
“O Cria faz também o trabalho de incentivar a sociedade em pensar na adoção, faz o trabalho de diminuir os mitos e preconceitos que existem em relação a adoção e para isso nós promovemos palestras, exposições fotográficas para mostrar que existem grupo de irmãos, existem crianças especiais, afrodescendentes, adolescentes, entre outras crianças que querem ser adotadas também”, completou.
O principal motivo para as crianças não serem adotadas é a demora para decidir as suas situações junto a Justiça, tanto que no cadastro nacional de adoção do Conselho Nacional de Justiça existem quase 34 mil pretendentes para adoção e só 5.600 crianças habilitadas para adoção.
Ou seja, estão sobrando casais querendo crianças e adolescentes que já deveriam ter sido adotados, mas falta maior celeridade da parte jurídica.
Outro projeto do Cria é o Apadrinhamento Afetivo. O programa ocorre com voluntários que se envolvem com as crianças e decidem levá-las, aos finais de semana, em casa e às segundas-feiras as levam de volta para a instituição de acolhimento.
Grupo desperta sentimento de servir
Há 4 anos como "Família Acolhedora", mulher já acolheu mais de oito adolescentes. Darci Cruz, 68 anos, é casada, possui quatro filhos biológicos e participa do projeto "Família Acolhedora" há 4 anos, onde já acolheu mais de oito adolescentes entre 12 a 17 anos. Ela afirmou que seu sentimento é de servir.
Ela relata que durante uma reunião na igreja em sua comunidade, no bairro Alto da Ressurreição, onde o Cria apresentou o projeto, seu marido foi o primeiro a querer participar e incentivar que eles recebessem jovens em sua residência.
"No início quando eu não entendia bem o projeto eu pensava que era só porque alguém precisava de um lar e eu podia levar alguns dias para casa, mas depois entendi que é muito mais do que isso, pois eles não querem só um lar, mas um acompanhamento, afeto, carinho e ajuda para serem reintegrados a suas famílias ou chegar a uma posição para ter sua própria vida.
A minha contribuição é vê-los bem na sociedade e capaz de viver sozinhos", afirmou. Darci diz que tem no Cria um parceiro forte e que, por isso, faz questão de manter presença assídua em todas as reuniões e programação do centro.
Cria reúne histórias de pessoas que realizaram sonho de adotar
O assistente social e psicopedagogo, Fabrício Barbosa, 39 anos, chegou como voluntário ao Cria e revela que sempre teve o desejo pela adoção, mas que antes precisava adquirir estabilidade financeira e preparo emocional para acolher seu filho.
Quando decidiu que era a hora certa de adotar, ele realizou uma avaliação no Cria e foi apresentado a ele alguns perfis de crianças. O professor diz que não tinha nenhuma exigência, mas quando ele viu a fotografia de João Henrique, 5 anos, foi amor à primeira vista. Em uma família constituída por pai e filho, o voluntário já conseguiu a guarda provisória do primogênito e luta pela definitiva.
“A gente se conheceu de uma forma muito mágica, pois quando eu entrei no processo de adoção, eu entrei com desejo, sem qualquer critério, porque, afinal de contas, o que eu desejava era poder garantir a uma criança uma família constituída por um pai e um filho que, para mim, isso já é um modelo muito forte de família, fugindo até das formas tradicionais. Na realidade, o que eu percebo hoje com meu filho é uma relação de amor”, descreveu.
Ele destaca que durante o processo é preciso ter muito amor não só à
criança, mas também ao desejo de constituir família, pois é necessário passar por todos os critérios como o processo legal, avaliações e visitas. Entretanto ele ressalta que tudo valeu a pena e que o Cria foi um grande aliado durante esse período. Por isso, ele continua a participar das reuniões e prestar seus serviços como assistente social, sendo voluntário no grupo.
Professora adota criança ao conhecer Cria
A professora e cuidadora de crianças, Socorro Sena, participou como voluntária dos projetos do Centro e com poucos dias participando conheceu o pequeno David, de 3 anos. De acordo com a cuidadora, o laço maternal nasceu no primeiro contato e desde então ela persiste para conseguir a guarda definitiva do filho. Sena disse ainda que durante o período de espera pela decisão judicial é muito difícil, mas o afeto e a maternidade lhe dão forças.
“Eu sei que vou conseguir a guarda permanente do meu filho, pois já construímos vínculo familiar. Eu estou com ele desde os 6 meses de vida”, declarou.
Socorro Sena é casada e não possui filhos biológicos. “Hoje o David completa minha família, depois que ele chegou minha vida mudou para melhor”, afirmou. Para ela, sem o Cria o processo para ter a guarda do filho teria sido mais burocrática e por isso tem um sentimento de gratidão e amor para com o Centro.
Fotos: Victor Gabriel