Ele não tem perfil em rede social, conta que mora numa cobertura dúplex na Barra e é visto em alguns dos restaurantes mais caros do Rio. Em tempos de amor na internet, em que só nos EUA dezenas de milhões de pessoas fazem perfis em sites de relacionamento em busca de sua alma gêmea, ele pagou R$ 15 mil por um anúncio em jornal, com o seguinte texto:
?Empresário, posição social elevada, separado, procura moça de ótima aparência, de 30 a 40 anos, para relacionamento sério. Carta com foto de corpo inteiro.?
Em outras palavras, José Carlos (nome fictício), que atua há mais de 30 anos no ramo imobiliário, procura uma mulher para chamar de sua. Pragmático, ele diz que se os anúncios funcionam nos negócios deverão funcionar também na vida sentimental, na qual admite ser menos habilidoso. Não que uma mulher se compare a um apartamento, assinala. Apesar de o Rio ser um dos estados com maior número de solteiras no país (aqui tem 24% a mais de mulheres disponíveis do que homens), a situação parece difícil para José Carlos. Ele está há cinco anos na busca, depois de ter-se separado ("infelizmente não deu certo").
Em entrevista ao blog de Ancelmo Gois, o empresário disse que recorreu ao anúncio porque foi como conheceu, há dez anos, a primeira mulher. Além disso, não tem paciência para internet. Ele não sabe, mas o Google informa que há um estudo da americana Associação para Ciência Psicológica dizendo que sites de relacionamento não ajudam tanto quanto se imagina.
-- Para os negócios, sou arrojado, mas, para a questão sentimental, sou meio tímido -- confessa o senhor que não revela a idade, mas pinta os cabelos de preto.
O que oferece à pretendente? ?Todo conforto, muito carinho e atenção.? Ele garante ser carinhoso. É branco, usa bigode e aparentemente está em forma. Apesar de sócio do Jockey Clube, jura não ter vícios. Nascido sob o signo de Libra, não liga para astrologia ("não sei o ascendente"). Gosta de livros de história, filmes de comédia (a mais recente foi "Até que sorte nos separe") e frequenta o Theatro Municipal, onde aprecia óperas e balé. Garante também que não é ciumento, mas faz uma exigência: a candidata não pode ser... gorda. Tem recebido uma carta por dia.
O anúncio, publicado no primeiro caderno de domingo passado, chamou a atenção de muita gente. Houve até quem pensasse se tratar de mensagem cifrada de alguma quadrilha de sequestrador. Num telefonema, descobrimos que o autor do anúncio existe. Com o compromisso de não divulgarmos informações que revelassem sua identidade, fomos ao encontro dele, no restaurante da sede social do Jockey Clube Brasileiro, na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro do Rio.
Entre uma e outra garfada de camarão com quiabo e goles de suco de laranja, o empresário José Carlos contou o que para ele é um verdadeiro drama.
-- Eu não tenho vida social. Para quem está desenturmado hoje é muito difícil arrumar um relacionamento sério. Trabalho bastante e só convivo com gente casada. Então me sinto ilhado -- conta o empresário.
A "ilha" dele fica na Zona Oeste do Rio -- a área para onde a cidade cresce e ele ganha dinheiro justamente num dos setores que mais faturam naquela região, o da indústria imobiliária. Ele conta que mora sozinho numa cobertura dúplex na Barra da Tijuca e sua empresa fica num bairro da mesma região. Separado da mulher -- uma médica -- José Carlos tem um filho de 20 anos, que estuda em Boston, EUA.
-- Minha ex-mulher está bem casada. Eu também tenho o direito de ser feliz novamente -- diz o último dos românticos.
O empresário se considera tão reservado quanto à vida sentimental que não foi capaz de confiar a nenhum funcionário de sua empresa ou mesmo a um amigo a tarefa de fazer o anúncio. Além do repórter, só uma funcionária dos classificados do jornal o viu pessoalmente. Ele observa que nenhum de seus amigos sabe que está à procura de um relacionamento sério.
Devoto de São Judas Tadeu -- o santo das causas impossíveis -- o empresário que quer casar é católico mas não faz questão de que a futura pretendente seja da mesma religião. Nem que torça pelo mesmo time que ele, "flamenguista fanático" ("é até bom que seja de outro time, para que haja uma saudável discussão", diz, com um toque democrático).
Vestindo camisa Tommy Hilffiger sob um jaquetão azul-marinho de botões dourados e sapatos de bico fino, estilo Luís XV, o empresário romântico é carioca de Copacabana e apaixonado pelo Rio. Fora daqui adora Angra dos Reis e Paris, onde é habitué em museus e bistrôs. A gastronomia é seu esporte preferido nos fins de semana. No Rio, batia ponto no extinto Garcia & Rodrigues, no Leblon. Agora pode ser encontrado em outros restaurantes caros, como o Antiquarius, que costuma frequentar com amigos.
Quanto à beleza feminina, para ele a mulher a brasileira está em primeiro lugar.
-- Conheço o mundo inteirinho, mas não há nada igual à mulher brasileira. Admiro muito a Gisele Bündchen, Ivete Sangalo e sou apaixonado pela Juliana Paes, com todo o respeito -- diz, plagiando o nosso colunista.
Seu padrão de beleza é o da mulher magra, mais para alta, "morena clara". Pode ser loura ou morena.
-- Eu só detesto gordura. Contratei uma decoradora para meu novo escritório e só pedi a ela que não me traga aqueles vasos redondos. Não gosto da forma.
Além das características recomendadas no anúncio, José Carlos espera que a candidata ao cargo de rainha do seu lar "tenha gabarito social e saiba conviver com um empresário de nível". Isso não significa, porém, que as moças de origem pobre estejam descartadas. O empresário casadoiro vai levar em conta o quesito "adaptabilidade". O tempo para a aprovação definitiva da candidata vai, segundo José Carlos, depender dela.
-- Vai depender da própria pessoa o tempo de conhecimento. Não vou me meter na vida dela. Pode ter seu trabalho ou ser dona de casa. Só não quero futilidade.
Em troca, ele promete:
-- Vou dar todo conforto material e até espiritual, muito carinho e atenção.
Sua principal qualidade, segundo ele mesmo: compreensão e não ser ciumento.
-- Não entendo homem que não permite que a mulher fale nem mesmo com amigos.
Um defeito por ele próprio:
-- Sou meio exigente, não? -- pergunta.
A ex-mulher, com certeza, tem a resposta.
Discreto, promete empenho e arrisca apenas um comentário sobre a vida sexual que pretende oferecer à futura mulher:
-- Vou me dedicar à causa.
Que seja feliz.