Após usar uma câmera de celular para gravar imagens do namorado agredindo seu filho de 13 anos, que sofre de uma doença degenerativa e vive numa cadeira de rodas, a mãe da vítima acredita que o eletricista Jeferson Basílio possa ter também ameaçado seu caçula, de 10 anos. Segundo ela, Jeferson, que está preso desde domingo no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, teria intimidado várias vezes o filho menor para que ele não contasse sobre as agressões ao irmão mais velho, vítima da Síndrome de Batten, que compromete gradativamente os movimentos musculares.
— Meu filho mais novo não é de falar muito, mas, no último mês, ele ficou fechado e não responde nem ao que eu pergunto. Desde o dia da agressão, chora muito e não quer falar sobre o caso. Tenho certeza que meu caçula ouviu ameaças e está com medo de dizer algo sobre o ato de Jeferson — disse a mãe. — Já estou procurando um psicólogo para que isso não interfira no futuro dele. É mais um problema que precisarei solucionar.
A mãe da vítima, que namorava Jeferson há dois meses, diz que se sente culpada por ter colocado em sua própria casa um homem que ela acredita que poderia até ter matado seu filho:
— Me sinto culpada, mas nunca imaginei que pudesse namorar alguém tão perverso. Parecia uma pessoa normal. Ele dizia que me amava, chegou a comprar presentes para os meninos.
FERIMENTO DESPERTOU SUSPEITA
Ela conta que não desconfiava de nada e que Jeferson sempre demonstrou um comportamento sociável: gostava de frequentar bares, ir ao cinema e viajar. Levar os enteados juntos, lembra a mãe, parecia não ser um problema para ele. Na semana passada, Jeferson estava animado e disse que havia passado em um concurso público. Ele estaria esperando a convocação para começar em um novo emprego com um bom salário. A mãe dos garotos só começou a desconfiar do namorado quando o filho mais velho apareceu com um ferimento:
— Resolvi colocar o celular para gravar porque no fim do mês passado meu filho doente apareceu com um machucado e achei suspeito. Imaginei que ele pudesse ter sentido ciúmes dos meus filhos e tomado alguma atitude, mas não cheguei a pensar em tortura.
A avó dos meninos disse que não gostava de Jeferson e que a antipatia aumentou quando, segundo ela, ele disse que o namoro seria melhor se o filho com a síndrome não existisse.
— Eu nunca gostei desse namoro. Depois que ele me disse que o namoro com a minha filha seria melhor sem o meu neto, notei o tipo de pessoa que era. Não falei para minha filha porque ela ia pensar que era implicância — contou.
A delegada-adjunta que investiga o caso de tortura, Norma Lacerda, da 78ª DP (São Gonçalo), disse que ficou impressionada com a conduta de Jeferson depois que foi preso. Segundo ela, o agressor se manteve calado quando foi confrontado pelos policiais e em nenhum momento mostrou arrependimento:
— Como ele não quis falar, tentei analisar a conduta dele. Jeferson se manteve frio, calmo e não esboçava nenhuma reação que pudesse indicar que estava arrependido de ter torturado o jovem.
Para o psiquiatra Márcio Loyola, em casos como esse é possível levantar a hipótese de que Jeferson sofra de um distúrbio psíquico, que afeta a sua forma de interação social, muitas vezes se comportando de forma antissocial.
— À primeira vista, ele também tem um desvio de caráter. O fato de torturar uma criança indefesa torna o ato ainda mais perverso — explicou.
Há pouco mais de um ano, quando Jeferson estava em um outro relacionamento, ele discutiu com a então namorada e a agrediu com socos no rosto, após saírem de uma praia em Niterói. Ele chegou a ser processado pela ex-namorada, mas não cumpriu pena.